RESUMO
Sem tempo? A Lili IA resume para você
Roma, 28 de novembro de 2024 – O que já parecia impensável se tornou realidade hoje. O Corriere della Sera, um dos jornais mais tradicionais da Itália, publicou uma manchete que provocou uma onda de indignação em todo o país: “La cittadinanza italiana in sconto (grazie allo ius sanguinis) per il Black Friday”. A oferta foi promovida por uma empresa brasileira que, em plena Black Friday, propôs um “desconto” para quem deseja reconhecer a cidadania italiana por meio do jus sanguinis. Não citaremos o nome do escritório por motivos óbvios, mas basta você pesquisar que verá que o escritório já foi bombardeado por comentários negativos.
A proposta, que mistura o que há de mais sério na identidade nacional italiana com as promoções comerciais típicas dessa data, acendeu a chama da revolta tanto nas redes sociais quanto nos corredores políticos de Roma. Para muitos, o que deveria ser um direito respeitado, conquistado através de vínculos históricos, culturais e afetivos com a Itália, foi reduzido a um produto consumível, como um par de sapatos ou uma televisão em liquidação.
Um Desconto Vergonhoso
A cidadania italiana não deveria ser tratada como um item de promoção. Contudo, a ideia de “descontos” para obtenção do passaporte italiano, baseados unicamente no direito de sangue, é uma ofensa ao legado histórico do país. O jus sanguinis, uma das mais antigas e sagradas formas de concessão de cidadania, foi transformado em uma mercadoria. A ligação ancestral, um elo profundo entre gerações de italianos que viveram e lutaram por sua pátria, agora é colocada em uma vitrine de comércio.
As reações não demoraram. Nas redes sociais, cidadãos e políticos de todo o espectro ideológico se uniram em uma condenação feroz. Forza Italia Toscana, por exemplo, em um post inflamado, declarou: “A cidadania italiana deve ser dada apenas a quem realmente a merece: quem ama nosso País, conhece nossa história, sente o Tricolor no coração.”
O Secretário Nacional Antonio Tajani também se posicionou, exaltando sua luta por uma reforma da lei de cidadania, com foco em controles mais rigorosos e uma luta contra o mercado negro de falsos ancestrais.
A Comercialização da Cidadania
Ao vincular a cidadania italiana a uma estratégia de marketing comercial, a proposta expõe um sistema cada vez mais vulnerável a fraudes e manipulações. No momento em que o país enfrenta a escassez de recursos, a venda de passaportes italianos é uma ameaça direta à segurança nacional. Em um mercado globalizado, onde intermediários oferecem “serviços” de pesquisa genealógica por preços exorbitantes, não é difícil imaginar como a cidadania, um direito histórico, se transforma em uma moeda de troca para aqueles que buscam uma “facilidade” de acesso à União Europeia.
De fato, o que essa promoção revela é a precariedade do sistema de cidadania italiana atual, basta ter um avô ou bisavô italiano para entrar em um processo que muitas vezes não leva em consideração o mínimo respeito pela história do país, nem mesmo ter entendimento do idioma italiano.
A Itália Não Está em Liquidação
Em tempos de globalização e de fluxos migratórios cada vez mais intensos, a Itália se vê diante de um dilema complicado: manter a herança cultural e os direitos dos descendentes de italianos espalhados pelo mundo, ao mesmo tempo em que protege sua identidade nacional. No entanto, transformar essa identidade em uma barganha comercial não é o caminho.
A cidadania italiana deve ser um reflexo de amor, respeito e conhecimento pelo país. Não pode ser uma transação simples ou uma compra no cartão de crédito. Ela deve ser conquistada por aqueles que realmente carregam em seus corações o peso e a honra de serem italianos.
O Que Está em Jogo
Este incidente, que parecia um pequeno escorregão, revela algo muito mais profundo. A identidade italiana está sendo diluída em um mar de interesses comerciais e oportunistas. Mais do que nunca, o país precisa de uma reforma urgente na legislação de cidadania, que não apenas combata fraudes, mas que devolva o respeito e seriedade ao processo.
Se a cidadania italiana se tornou uma mercadoria, o que restará da Itália para as futuras gerações? No futuro, será necessário mais do que um simples link de promoção para reconhecer quem é realmente italiano. Porque, no final das contas, não é apenas o passaporte que define quem somos, mas o amor e o compromisso com a nossa história. E isso, nenhum desconto pode comprar.