O 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, não é apenas uma data simbólica. É um momento para expor dados alarmantes, diagnosticar falhas políticas e questionar o quanto estamos realmente avançando ou não a proteção das mulheres. Em todo o mundo, milhões de mulheres enfrentam diariamente formas diversas de violência física, psicológica, sexual, econômica e digital que muitas vezes permanecem invisíveis ou subnotificadas. Essa realidade não é uniforme: varia entre países, culturas e faixas etárias, mas revela um padrão alarmante de desigualdade e vulnerabilidade. Ao rememorar as vítimas e celebrar a resistência de quem luta por direitos, o 25 de novembro se torna um alerta global, convocando governos, instituições e sociedade civil a agir de forma concreta, transformando dados e estatísticas em políticas efetivas de prevenção e proteção.
Dados Globais: Um Problema Persistente
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 840 milhões de mulheres sofreram violência de parceiro íntimo ou violência sexual ao longo de suas vidas.
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De acordo com a ONU, aproximadamente 50.000 mulheres e meninas são mortas por parceiros ou familiares todos os anos, o que equivale a cerca de 137 por dia.
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Essas cifras mostram que, apesar das campanhas e das políticas existentes, a violência de gênero permanece uma das crises de direitos humanos mais persistentes. A falta de financiamento para prevenção também é alarmante: programas de combate à violência contra a mulher recebem fatias muito pequenas da ajuda internacional.
Um Panorama que Assusta
Cerca de 31,9% das mulheres entre 16 e 75 anos já sofreram violência física ou sexual durante a vida. Parte significativa dessa violência ocorre dentro do lar: mais de 50% das agressões são cometidas por parceiros ou ex-parceiros. Paralelamente, dados do Ministério da Saúde italiano destacam que das ligações ao número antiviolência 1522, mais da metade das vítimas relatam violência doméstica a própria casa, para 74,3% dos casos, é o local onde ocorrem as agressões.
Um dos dados mais alarmantes: o aumento de 83,5% nas chamadas para o 1522 nos primeiros dois trimestres de 2024. Esse salto reflete tanto uma maior consciência pública quanto o impacto dos meios de comunicação ao denunciar casos de violência. Contudo, a esperança de denúncia concreta tampouco é plenamente concretizada: 70,9% das vítimas que ligam para o 1522 não registram boletim de ocorrência formal. Medo, vergonha ou receio de reações violentas são citados como principais obstáculos.
Os femicídios permanecem uma ferida aberta. Relatórios e organizações apontam para 98 mulheres assassinadas por razões de gênero até 2024. Já para alguns levantamentos civis, o número pode soar ainda mais alto: 113 feminicídios foram reportados em 2024. Além disso, há uma forte tendência de subnotificação: muitos atos persecutórios e casos de violência não chegam ao conhecimento das autoridades, impedindo uma reação sistêmica adequada.
Parte do aumento nas chamadas ao 1522 em 2024 é atribuída à cobertura midiática tragédias de alto impacto e denúncias públicas sensibilizaram a opinião pública. Ainda assim, estudos revelam que muitos jovens italianos ainda naturalizam comportamentos abusivos, como o controle de celular ou redes sociais pelo parceiro. Ativistas e especialistas ressaltam que, por mais importante que sejam as medidas legais, não há mudança sem educação preventiva. É necessário educar para o respeito, a igualdade de gênero e a comunicação emocional, desde as escolas até as comunidades.
O 25 de novembro na Itália é, por um lado, um dia de memória das vítimas, dos casos de femicídio, das lutas históricas. Por outro, é um chamado urgente à ação: os números não mentem. Sem uma abordagem integrada envolvendo políticas públicas, sistema de saúde, educação e mobilização cultural a escalada de violência corre o risco de se tornar estrutural.
Para transformar essa realidade, exige-se mais do que solidariedade. É necessário compromisso: com a prevenção, com a denúncia, com redes de acolhimento robustas. Se o número 1522 funciona como um farol de esperança, cabe à sociedade garantir que ele seja mais do que uma rota de saída — que seja o início de uma mudança profunda.































