O trabalho de estrangeiros gera 177 bilhões de euros na economia italiana, o equivalente a 9% do Produto Interno Bruto (PIB). O dado, divulgado pelo último relatório da Fundação Leone Moressa, mostra um papel relevante desses trabalhadores na sustentação do país. No entanto, por trás dos números, esconde-se uma realidade complexa: a Itália depende dessa força de trabalho, mas a mantém concentrada em funções de baixo valor agregado, em setores considerados “trabalhos pobres”, que cada vez mais os italianos evitam.
O peso real do trabalho estrangeiro
Segundo a Fundação Leone Moressa, os 2,51 milhões de trabalhadores estrangeiros representam 10,5% da força de trabalho, mas produzem apenas 9% do PIB. Essa diferença evidencia uma segregação estrutural: grande parte desses trabalhadores atua em profissões de menor qualificação e remuneração.
“A economia italiana absorve a mão de obra estrangeira, mas a canaliza para empregos menos produtivos”, explica a pesquisadora Chiara Tronchin. O número real de pessoas de origem estrangeira é ainda maior, considerando aqueles que adquiriram cidadania italiana e saem das estatísticas oficiais, aumentando o impacto econômico total dessa população.
Setores-chave e desigualdade
O relatório detalha os setores onde o trabalho estrangeiro é mais concentrado e, ao mesmo tempo, mais explorado. Embora os serviços absorvam a maior quantidade absoluta de trabalhadores, a agricultura e a construção civil mostram maior dependência relativa:
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Agricultura: trabalhadores estrangeiros produzem 18% do valor agregado do setor.
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Construção civil: contribuição estrangeira chega a 16,4%.
Esses números indicam não apenas especialização, mas substituição de mão de obra local em setores com condições de trabalho duras, alta informalidade e baixa remuneração. Muitos distritos agrícolas e canteiros de obras dependem quase inteiramente dessa força de trabalho, revelando uma economia dependente de mão de obra barata.
Polarização territorial
A contribuição econômica dos trabalhadores estrangeiros apresenta forte concentração regional. No Veneto, o valor agregado produzido chega a 19,8 bilhões de euros, superando o total das regiões do Sul e das Ilhas juntas, que somam 19,2 bilhões. Isso mostra que os fluxos migratórios seguem a demanda de trabalho de baixa qualificação, concentrando-se nas áreas industriais e produtivas do Norte do país.
O que aconteceria sem imigração?
As projeções demográficas de Eurostat para 2050 apontam um cenário crítico. Mesmo considerando os fluxos migratórios atuais, a Itália perderia quase um milhão de residentes e três milhões de ocupados, com queda do PIB de 11%. No cenário “imigração zero”, a perda seria ainda mais dramática: nove milhões de residentes e 6,8 milhões de trabalhadores a menos, resultando em retração de 25,6% no valor agregado e redução da riqueza nacional para 1.463 bilhões de euros.
Os números deixam clara a contradição italiana: o país não pode prescindir do trabalho estrangeiro, mas mantém esses trabalhadores à margem da economia, confinados aos setores de menor valor agregado. A dependência é estrutural, mas a integração continua limitada. O desafio para a Itália será conciliar a necessidade vital de mão de obra estrangeira com políticas que promovam valorização, equidade e sustentabilidade econômica a longo prazo.