Os cinco referendos sobre temas trabalhistas (mercado de trabalho e segurança) e cidadania por tempo de residência realizados neste domingo na Itália enfrentaram uma participação extremamente baixa, colocando em xeque não apenas a eficácia da campanha promovida pela CGIL e setores da esquerda, mas também o próprio instrumento do referendo como ferramenta democrática. Com menos de 30% de comparecimento às urnas, o resultado já é tratado como uma derrota simbólica para a oposição, que tentou transformar a consulta em um teste político contra o governo de Giorgia Meloni. Entre reações de frustração, comemorações e propostas de reforma, o debate sobre o futuro dos referendos e do engajamento cívico no país ganha novo fôlego.
Resultado final da Votação: Quorum não atingido, leis permanecem como estão
Apesar da ampla maioria de votos favoráveis em todas as quatro questões do Referendo 2025 — com percentuais que variaram entre 87% e 89% pelo “SIM” — o comparecimento às urnas foi de apenas 30,58%, bem abaixo do mínimo exigido de 50% do eleitorado.
Com isso, o quorum foi considerado inválido e nenhuma das propostas será válida ou implementada. Na prática, as leis continuam como estão, sem alterações nos temas de reintegração de demissões ilegais, limite de indenizações, proteção a contratos temporários ou responsabilidade por atos sindicais.
Fonte oficial: elezioni.interno.gov.it – Resultados e participação no Referendo Abrogativo 2025 (Ministério do Interior da Itália).
Referendos de 2025: baixa participação gera críticas e divide reações políticas
A baixa adesão do eleitorado nos referendos trabalhistas de 2025 — com índices de participação girando em torno de apenas 29% — provocou um forte embate político. Para muitos, o instrumento do referendo acabou se voltando contra seus próprios idealizadores.
A eurodeputada Elisabetta Gualmini (PD) chamou o resultado de um “bumerangue”, criticando a mobilização total do partido em torno de um tema que visava corrigir erros do próprio passado. “Era para ser uma expulsão para Meloni. Não parece que vai acontecer”, escreveu no X.
Do outro lado, a Liga celebrou a derrota como “devastadora” para a esquerda. A eurodeputada Silvia Sardone publicou um card com os rostos de Schlein, Landini e Conte, acompanhada da legenda: “Desastre histórico para a esquerda!“
Giovanbattista Fazzolari, subsecretário da Presidência, disse que a tentativa da oposição de transformar os referendos em um plebiscito contra Meloni falhou, e que o governo saiu ainda mais fortalecido.
Já o líder sindical Maurizio Landini (CGIL) aguardava os dados definitivos com sua equipe em Roma, sob forte atenção da imprensa. A expectativa era de um discurso ainda na tarde de domingo, mesmo com o cenário desfavorável. O mesmo criticou a politização dos referendos que impediu o debate sobre os conteúdos. Segundo ele, “nos últimos dias, alguns membros do governo não conheciam os temas e, ao mesmo tempo, pediam para não votar. Isso é uma grave falta de responsabilidade”. Landini destacou que “não está em jogo a CGIL, quem está em jogo é a democracia do país”. Ele também ressaltou o custo da democracia: “Eu deveria me preocupar se, para reduzir custos, as pessoas deixassem de votar?”. Por fim, lembrou que “havíamos pedido que a votação fosse realizada junto com as eleições municipais, no primeiro turno”.
“Não fiz mais nenhuma referência ou palavra de propaganda e, como prometido, fui à seção já na manhã de domingo. Mas a campanha vulgar de desprezo – ou pior, de ódio – contra mim teve um efeito: votei apenas em um dos quesitos. Sem essas palavras, talvez eu tivesse votado NÃO em todos os cinco.” Assim declarou o presidente do Senado, Ignazio La Russa.
“Eles — Schlein, Bonelli e os vários comentaristas alinhados — fizeram a participação cair em vez de crescer. E talvez não só a minha, porque tenho testemunhos de muitos que, enojados pelo ‘Ataquem La Russa’ ou pior, ‘Ataquem Meloni’, decidiram não votar. Se estão felizes com isso…”, concluiu o presidente do Palazzo Madama.
Fabio Rampelli (Fratelli d’Italia) destacou que o fracasso também revela uma desconexão com o momento atual do mercado de trabalho e defendeu revisar para cima o número de assinaturas para convocar referendos, como forma de garantir maior envolvimento da população.
“Uma derrota profunda, séria e evitável. Infelizmente, um presente enorme para Giorgia Meloni e para as direitas. Fora da nossa bolha, existe um país que quer o futuro, não acertos de contas com o passado. Agora é hora de maturidade, seriedade e escuta, evitando acrobacias para justificar os números.” Foi o que escreveu em suas redes sociais a eurodeputada Pina Picierno, do Partido Democrático (PD).
Por fim, o vice-premiê Matteo Salvini criticou a proposta sobre cidadania, reforçando que “ser italiano não é um presente” e que as regras devem ser mais rígidas.
Em meio às críticas e autocríticas, uma proposta de lei popular ganhou força: abolir o quórum mínimo de 50% nos referendos, considerado por seus autores uma trava à democracia participativa. A iniciativa, chamada “Basta quórum!”, já está aberta à coleta digital de assinaturas pelo Ministério da Justiça.
Mais Reações Políticas ao Referendo: Críticas ao Conteúdo
O referendo de 2025 continua a gerar forte repercussão no cenário político italiano. Para o líder do Italia Viva, Matteo Renzi, o fracasso em atingir o quórum já era previsível. Em sua tradicional Enews, ele afirmou: “Está claro que não haverá quórum, como já era fácil prever pelos precedentes. As perguntas eram ideológicas e voltadas para o passado.” Segundo Renzi, “o passado não faz vencer” e, para construir uma centro-esquerda competitiva, é preciso falar sobre o futuro, conquistar a classe média e abandonar batalhas identitárias que agradam congressos, mas não ganham eleições.
Também o vice-premiê e líder do Forza Italia, Antonio Tajani, aproveitou a ocasião para propor mudanças estruturais no processo referendário. Durante participação no Speciale TG1, Tajani afirmou: “Talvez seja necessário mudar a lei dos referendos. Precisamos de mais assinaturas para ativar uma consulta, até porque gastamos muito dinheiro — por exemplo, para enviar milhões de cédulas a italianos no exterior, que retornaram em branco.”
Objetivo não alcançado, mas 14 milhões votaram, dado importante
“Vamos direto ao ponto, nosso objetivo era alcançar o quórum para mudar as leis. Esse objetivo não foi atingido. Não podemos comemorar: não alcançamos nosso objetivo“, comentou de forma imediata Maurizio Landini, certamente desapontado com o resultado da votação. Até o último momento, o secretário da CGIL apostava em alcançar o quórum, desafio quase impossível considerando consultas populares recentes.
Landini chegou à sala de imprensa no Centro de Congressos Frentani, sede do Comitê para os referendos sobre o trabalho, após aguardar a chegada dos dados sobre a participação ao lado dos secretários confederais da CGIL, com quem fez uma primeira análise dos resultados. “O quórum não foi alcançado, mas mais de 14 milhões de italianos votaram, e para nós é um número muito importante – acrescentou – é um ponto de partida, pois os problemas que levantamos com os referendos continuam todos na mesa. Há um ano, quando recolhemos as assinaturas, sabíamos que não seria fácil“, afirmou o secretário-geral da CGIL, Maurizio Landini.
As declarações refletem um sentimento crescente de frustração com o uso do referendo como instrumento político, especialmente diante dos custos e da baixa participação popular.
Participação parcial na Itália e Exterior
O site elezioni.interno.gov.it é a fonte oficial do Ministério do Interior da Itália para os resultados eleitorais — incluindo a participação e apuração dos referendos.
Participação total (Itália + exterior) – Dados parciais até 9 de junho
Quesito | Tema | Participação (%) | Seções Apuradas | Comunicação Exterior |
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1 | Reintegração após demissão injusta | 29,11% | 26.241 de 61.591 | 0 de 1.863 |
2 | Indenização por demissão (pequenas empresas) | 29,20% | 27.971 de 61.591 | 0 de 1.863 |
3 | Limite para contratos temporários | 29,22% | 28.597 de 61.591 | 0 de 1.863 |
4 | Responsabilidade por acidentes em contratos terceirizados | 29,18% | 28.847 de 61.591 | 0 de 1.863 |
5 | Redução de tempo para pedir cidadania italiana | 29,16% | 29.561 de 61.591 | 0 de 1.863 |
Apuração de Votos no Exterior
E depois da votação?
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A votação começou às 7h e terminou às 15h hoje, dia 9 de junho, segunda-feira.
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Para que cada proposta seja válida, é preciso que ao menos 50% dos eleitores participem (quorum).
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Se o quorum for atingido, a proposta é aprovada se tiver maioria simples (50% + 1 voto válido).
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Se aprovada, a mudança na lei é imediata.
Resultado final da Votação: Quorum não atingido, leis permanecem como estão
O Referendo Abrogativo 2025 revelou um claro posicionamento da maioria dos votantes a favor das mudanças propostas, mas a baixa participação popular impediu qualquer avanço legislativo. Com a taxa de comparecimento inferior ao mínimo exigido, o resultado foi tecnicamente inválido. Assim, mesmo diante de um expressivo apoio ao “SIM”, as leis vigentes seguem em vigor, e nenhuma das quinto medidas será modificada. Esse desfecho reforça a importância não apenas do voto, mas da participação ativa e ampla da sociedade nos processos democráticos.
Fonte oficial: elezioni.interno.gov.it – Resultados e participação no Referendo Abrogativo 2025 (Ministério do Interior da Itália).
Simples e triste que 50% dos italianos inscritos no AIRE não receberam do consulado o envelope para votar. Seria um boicote? Coincidência?
Compreendemos a frustração diante da situação, mas é fundamental tratar o tema com base em dados concretos e responsabilidade.
É importante reforçar que todos os cidadãos italianos inscritos no AIRE que não receberam o envelope eleitoral no prazo tiveram, sim, a oportunidade de solicitar a segunda via diretamente ao consulado, dentro do período previsto pela legislação. Esse procedimento foi amplamente divulgado pelos canais oficiais.
Portanto, em muitos casos, o problema não esteve ligado a um boicote, mas à falta de iniciativa ou de acompanhamento do processo por parte de alguns eleitores. A participação democrática exige também atenção ativa de cada cidadão.