Nesta quarta-feira, 25 de junho de 2025, Haia foi palco de uma das cúpulas mais importantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nos últimos anos. Com a participação dos chefes de Estado e de governo dos 32 países-membros, a reunião teve como centro a discussão do aumento dos gastos militares para o patamar de 5% do PIB uma meta ousada que reflete a crescente tensão geopolítica diante dos desafios representados pela Rússia e pela China.
O Desafio Financeiro da Aliança
Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda e anfitrião do evento, sintetizou a complexidade do momento: “Os países precisam encontrar dinheiro”. Um pedido que esbarra nas limitações orçamentárias e prioridades domésticas de cada nação, mas que é apresentado como indispensável para fortalecer a defesa coletiva. A declaração do líder holandês não esconde a pressão sobre aliados que ainda não atingiram sequer os 2% do PIB recomendados como mínimo para gastos militares, desafio histórico que agora ganha uma nova dimensão com a proposta de 5%.
Para Rutte, a mudança de postura e a escalada nos investimentos seriam praticamente impensáveis sem o papel desempenhado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Sem o presidente Trump, isso não teria acontecido”, afirmou, reconhecendo o impacto do ex-presidente americano na pressão para que os aliados aumentem seus compromissos financeiros. Embora tenha admitido que são “decisões difíceis”, Rutte reforçou que a unidade e a responsabilidade compartilhada são imperativos inegociáveis para a sobrevivência da Aliança.
Trump Reafirma Compromisso com o Artigo 5 e Exalta Meta de Gastos
O presidente Trump, que antes da cúpula havia gerado dúvidas sobre seu apoio irrestrito ao Artigo 5 — cláusula que garante defesa coletiva entre os membros da OTAN —, surpreendeu ao reafirmar seu compromisso. “Estamos com eles até o fim. E a OTAN será forte”, declarou, buscando dissipar rumores de possível retração dos EUA na aliança.
Além disso, Trump saudou o aumento da meta para 5% do PIB em gastos militares como uma “grande notícia”. “Há vários anos venho pedindo que aumentem para 5%. Muitos países nem sequer pagaram 2% antes, então isso representa um grande salto”, afirmou, colocando sua administração como protagonista na mudança de postura dos aliados europeus.
Um Dia Decisivo para a OTAN e para a Segurança Global
O clima em Haia foi de otimismo cauteloso. A presença de líderes como a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e o primeiro-ministro holandês Dick Schoof reforça a importância do momento, especialmente diante da guerra em curso na Ucrânia, que torna palpável a necessidade de uma aliança mais coesa e preparada.
Schoof destacou a necessidade de um equilíbrio entre ambição e realismo, defendendo metas intermediárias como 3,5% e 1,5% do PIB, ao mesmo tempo em que enfatizou a importância de fortalecer a indústria de defesa local. Para ele, “há uma necessidade absoluta de maior partilha de responsabilidades, tanto financeiras quanto militares”.
A agenda intensa da cúpula, que incluiu reuniões com membros do G7 e da União Europeia, simboliza a interconectividade dos desafios atuais, onde segurança, economia e diplomacia caminham lado a lado. A tradicional foto de família, pouco antes da sessão plenária, simbolizou a tentativa de apresentar uma frente unida ao mundo, mesmo que os debates internos indiquem que a aliança ainda tem desafios significativos pela frente.
A cúpula da OTAN em Haia será lembrada como um momento de tentativa de reafirmação da aliança transatlântica frente a um cenário global de incertezas e ameaças múltiplas. A ambiciosa meta de 5% do PIB para gastos militares é um teste para a solidariedade e a capacidade política dos países membros. O diálogo entre Rutte e Trump demonstra que, apesar das diferenças, existe uma convergência essencial: a necessidade de manter a OTAN forte, unida e preparada para os desafios do século XXI.
Se este será um dia histórico, como esperam os líderes, dependerá da execução concreta dessas decisões difíceis. Afinal, em tempos de crise, a unidade e o comprometimento não são apenas palavras são a linha tênue que separa segurança de vulnerabilidade.