O partido de direita, fundado originalmente com foco regionalista no norte da Itália, transformou-se nos últimos anos em uma das principais forças da política nacional, agora rebatizado como apenas Lega. Sob a liderança de Matteo Salvini, a legenda tem ampliado seu campo de influência ao direcionar esforços para controlar temas sensíveis como segurança, imigração e cidadania — pilares de sua base eleitoral.
As 106 Emendas no Senado
Na tramitação do chamado “Decreto Tajani”, que trata da reorganização dos consulados e políticas de cidadania para italianos no exterior, a Lega apresentou diversas emendas, entre elas uma que tem despertado atenção e polêmica. Uma das propostas visa tornar o processo de reconhecimento da cidadania mais restritivo, exigindo comprovação mais rigorosa do vínculo com a cultura italiana.
Embora aleguem se tratar de uma medida para combater fraudes e acelerar processos legítimos, críticos apontam que a intenção real seria limitar o acesso à cidadania por jus sanguinis, especialmente para descendentes residentes fora da Europa — como no Brasil e Argentina, onde vive uma das maiores comunidades ítalo-descendentes do mundo.
Interesses Eleitorais e Econômicos
O endurecimento nas políticas de imigração e cidadania se alinha com o discurso da Lega de preservação da identidade nacional e controle das fronteiras. Além disso, a postura visa consolidar apoio entre eleitores insatisfeitos com a globalização e o fluxo migratório, principalmente em regiões economicamente pressionadas.
Há também um interesse econômico. Ao restringir a cidadania, o partido busca conter os custos com serviços públicos associados a novos cidadãos e, simultaneamente, garantir que o direito seja reconhecido preferencialmente a quem já está integrado ao sistema — ou seja, aos que residem ou trabalham na Itália.
Imigração Interna x Externa
A Lega Nord tem usado a imigração como ferramenta de mobilização política. Ao mesmo tempo em que defende regras rígidas para quem vem de fora, o partido adota retórica de “italianos primeiro”, promovendo políticas que priorizem cidadãos italianos em áreas como emprego, habitação e acesso a benefícios.
Com isso, o partido também responde à crescente pressão de sua base mais radical, que vê a imigração como uma ameaça à segurança e aos valores tradicionais italianos.
Organizações de italianos no exterior, juristas e políticos de oposição vêm se posicionando contra o conteúdo e o volume das emendas apresentadas. Muitos enxergam na estratégia da Lega uma tentativa de bloqueio indireto da ampliação dos direitos civis e de pertencimento para milhões de descendentes de italianos espalhados pelo mundo.
O resultado prático desse lobby ainda está em aberto. Contudo, o embate entre as forças progressistas e conservadoras sobre quem tem direito ao passaporte italiano está longe de acabar — e promete ser um dos pontos mais sensíveis da agenda política nos próximos meses.