A Itália se coloca novamente como protagonista na tentativa de reiniciar as negociações de paz entre Ucrânia e Rússia, em meio a um cenário internacional marcado por tensões e avanços diplomáticos cautelosos. A presidente do Conselho, Giorgia Meloni, afirmou nesta quinta-feira, em coletiva conjunta com a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, no Palazzo Chigi, que a Ucrânia demonstrou abertura para o diálogo, mas que, até o momento, o Kremlin não apresentou sinais concretos de disposição para a paz.
“Devemos agradecer ao presidente Zelensky e ao governo ucraniano, que nas últimas semanas manifestaram uma sincera vontade de buscar a paz, aceitando negociações”, destacou Meloni. “Por outro lado, não vimos nenhuma medida concreta da Rússia neste momento. É importante lembrar isso para desmontar a narrativa de que Moscou estaria realmente disponível para a paz”, acrescentou.
Durante a coletiva, Meloni revelou que está em contato constante com os principais atores internacionais, incluindo o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem teria conversado “há algumas horas”. A líder italiana detalhou um plano para avançar em um processo de negociação em duas fases: inicialmente, um diálogo técnico para avaliar a viabilidade das conversas; e, caso as condições permitam, uma segunda fase voltada para o debate político e a busca de um acordo abrangente.
Entre os locais propostos para sediar esse processo de negociações estão o Vaticano — que manifestou disponibilidade por meio do Papa — e a Suíça, que confirmou a abertura ao diálogo através de contatos com o governo ucraniano. A Turquia também permanece na lista de opções.
“A prioridade é garantir que as negociações sejam sérias e que os interlocutores estejam realmente dispostos a avançar”, afirmou Meloni. “Nosso objetivo é um cessar-fogo efetivo e um acordo de paz que contemple garantias de segurança para a Ucrânia.”
Aliança Itália-Dinamarca para reforma das políticas migratórias europeias
Além do tema Ucrânia, o encontro entre Meloni e Frederiksen marcou o relançamento de uma parceria política entre Itália, Dinamarca e outros países da União Europeia — incluindo Áustria, Bélgica, Polônia, Lituânia e República Tcheca — com o objetivo de reformar as convenções europeias que regulam os direitos e a imigração.
“Não queremos enfraquecer as convenções, mas torná-las mais eficazes para enfrentar as questões atuais, principalmente a migração”, explicou Meloni. “Precisamos analisar se algumas interpretações judiciais têm limitado a capacidade dos Estados-membros de tomarem decisões políticas eficazes.”
Frederiksen concordou, ressaltando que, apesar das diferenças políticas e culturais, a cooperação entre os países tem sido concreta e produtiva. “Juntos reconhecemos que há limites para o número de pessoas que a Europa pode acolher, e estamos construindo uma colaboração efetiva.”
Itália busca papel mediador confiável em tempos difíceis
Ao elogiar a eficiência e pragmatismo da primeira-ministra dinamarquesa, Meloni destacou que, mesmo com visões distintas, ambos os países compartilham o compromisso de entregar soluções concretas aos cidadãos europeus. “Mette não perde tempo com discursos — ela age. É possível que países e líderes aparentemente distantes trabalhem bem juntos em prol de objetivos comuns.”
Em um momento delicado da geopolítica mundial, a Itália busca consolidar-se como mediadora confiável, apostando em uma diplomacia multinível que ultrapassa antigas divisões políticas e reforça seu protagonismo tanto na questão da Ucrânia quanto no complexo tema da imigração.