A Itália contabilizou, desde o início de 2025, pelo menos 16 feminicídios — um número que supera em dois casos o mesmo período do ano passado e reacende o alarme sobre a persistente violência de gênero no país. Mulheres esfaqueadas, estranguladas e brutalmente assassinadas, muitas vezes por parceiros ou ex-companheiros, compõem um retrato sombrio que parece se repetir a cada nova semana.
O caso mais recente chocou o país: Martina Carbonaro, de apenas 14 anos, foi morta pelo ex-namorado na província de Nápoles. O adolescente confessou o assassinato logo após o crime, ocorrido na quarta-feira (21), e levantou novamente o debate sobre os limites da proteção às vítimas menores e os sinais ignorados de violência precoce nos relacionamentos.
Outros crimes recentes, com detalhes igualmente brutais, compõem uma lista que vai de norte a sul do país. Em Civitavecchia, Teodora Kamenova, de 47 anos, cidadã búlgara, foi esfaqueada até a morte pelo companheiro venezuelano no hall de entrada de seu prédio. Em Bitonto, na província de Bari, Lucia Chiapperini, de 74 anos, foi assassinada com 22 golpes de tesoura pelo próprio marido, que chegou a insultá-la enquanto a ferida agonizava. Um vídeo e gravação de áudio revelam os últimos minutos da vítima, nos quais o agressor diz: “Morra. Você nem merece compaixão.”
Samia Rejab Kedim, de 46 anos, foi morta em Udine pelo ex-marido, que usava pulseira eletrônica devido a medidas cautelares. Mesmo sob vigilância, ele conseguiu alcançá-la durante uma licença temporária e a matou com uma faca, depois tentou suicídio colidindo com o carro.
Outro episódio ocorreu em Samarate, na Lombardia, onde Teresa Stabile, de 55 anos, foi esfaqueada ao entrar em seu carro. O marido, de quem estava se separando, havia deixado cartas com ameaças de suicídio, indicando premeditação.
Também na região do Lácio, o corpo de Ilaria Sula, estudante de 22 anos, foi encontrado dentro de uma mala em uma ravina na zona rural de Poli. A jovem estava desaparecida há dias, e o ex-namorado foi preso pelo crime. No mesmo mês, em Messina, Sara Campanella, outra estudante de 22 anos, foi morta na rua com um golpe de faca no pescoço. O agressor, um colega de universidade, foi detido no local.
O ciclo de violência doméstica também se evidenciou em Spoleto, onde Laura Papadia, 36, foi estrangulada pelo marido após uma discussão sobre ter ou não filhos. Em seguida, o homem tentou suicídio na Ponte delle Torri, mas foi impedido pela polícia.
Em Nápoles, o ucraniano Ivan Chornenhyy matou sua esposa, Ruslana Chornenka, com um objeto contundente e, logo após, se enforcou no banheiro de casa. A cena foi descoberta pela filha do casal, de apenas 17 anos.
A série de crimes inclui ainda o assassinato de Sabrina Baldini Paleni, uma profissional de saúde de 42 anos, morta em 13 de março em sua residência em Chignolo Po, na Lombardia, pelo próprio parceiro.
Esses episódios revelam padrões recorrentes: mulheres mortas por homens com quem mantinham ou haviam encerrado relações afetivas, muitas vezes após histórico de violência ou ameaças. Apesar de campanhas nacionais e leis de proteção, como o “Código Vermelho”, que acelera a resposta judicial a denúncias de violência doméstica, os números crescem.
Especialistas apontam a necessidade urgente de ações integradas entre escolas, comunidades, sistema judiciário e mídia. “Não é só um problema de segurança pública, é uma crise cultural e estrutural”, alerta a socióloga italiana Chiara Volpato. “Precisamos transformar o modo como educamos meninos e meninas sobre afetividade, respeito e igualdade.”
Enquanto isso, famílias enlutadas se multiplicam, e a sociedade italiana encara o desafio de enfrentar um mal que, para muitas mulheres, continua sendo mortal.