A possibilidade de um confronto militar entre os Estados Unidos e o Irã voltou a dominar os noticiários internacionais após declarações do ex-presidente Donald Trump, pré-candidato republicano à presidência, que afirmou que levaria “duas semanas” para decidir se lançaria um ataque contra Teerã, em apoio a Israel. A fala ocorre após a Casa Branca ter aprovado planos preliminares de ataque e movimentado quatro bombardeiros estratégicos B-2, o que elevou ainda mais a tensão global.
Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, apesar das movimentações militares e da pressão internacional, “não há uma decisão final tomada”, e tudo ainda está “em avaliação”. As movimentações ocorrem em meio ao agravamento da crise entre Israel e Irã, especialmente após o ataque israelense de 13 de junho às instalações nucleares e militares iranianas.
Bases militares dos EUA na Itália: ponto estratégico sob observação
Diante de um possível conflito, cresce a atenção sobre a infraestrutura militar dos EUA em solo europeu — em particular na Itália. As bases americanas distribuídas pelo território italiano podem se tornar peças-chave no caso de uma ofensiva contra o Irã, especialmente para operações logísticas e de abastecimento.
Atualmente, mais de 12 mil militares norte-americanos estão alocados em dezenas de instalações espalhadas pela península. Entre as mais relevantes estão:
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Aviano (Friuli-Venezia Giulia) – Sede da 31ª Ala de Caça da Força Aérea dos EUA.
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Vicenza (Vêneto) – Quartel Ederle, um dos principais centros logísticos do Exército dos EUA.
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Sigonella (Sicília) – Considerada a principal base aérea da Marinha americana no Mediterrâneo, fundamental para operações da Sexta Frota.
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Camp Darby (Toscana) – Importante depósito de munições, mísseis e suprimentos.
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Gaeta (Lácio) – Porto de escala da Marinha dos EUA.
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Solbiate Olona e Ghedi (Lombardia) – Suporte aéreo com a 52ª Ala de Caça desde 2007.
Itália rejeita envolvimento direto
Apesar da presença militar americana, o governo italiano tem mantido uma postura cautelosa. O Ministro da Defesa, Guido Crosetto, foi enfático ao declarar:
“A Itália certamente não pensa em entrar em guerra com o Irã. Não creio que algum dia haverá soldados ou aviões que possam bombardear o Irã. Isso é constitucionalmente impossível e não há vontade política para isso.”
Crosetto também destacou o acordo bilateral firmado entre Roma e Washington em 1951, que regula a presença e o uso das bases militares dos EUA em território italiano. Segundo o ministro, qualquer uso extraordinário desses espaços deve ser previamente comunicado e aprovado pelo governo italiano. Até o momento, segundo ele, não houve qualquer pedido formal por parte dos EUA.
O Ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, reforçou a posição oficial:
“Neste momento, não temos notícias de bases militares americanas envolvidas em ações relacionadas ao Irã.”
O papel da OTAN em xeque
A possível escalada de tensões entre EUA e Irã também reacende discussões internas sobre o papel da OTAN. Crosetto criticou a atual estrutura da Aliança Atlântica, criada no contexto da Guerra Fria:
“Se a OTAN nasceu para garantir a paz e a defesa mútua, ela precisa se transformar. O centro do mundo não são mais os EUA e a União Europeia.”
O ministro defende que a aliança se torne uma organização mais dialogante com o Sul global, ou, segundo ele, “não atingiremos nossos objetivos”.
Incertezas e próximos passos
Com os ventos da guerra soprando novamente no Oriente Médio, a posição dos EUA permanece em compasso de espera. A fala de Trump revela a influência do cenário eleitoral americano nas decisões de política externa, e a proximidade com Israel adiciona um elemento sensível à equação.
Enquanto isso, os olhos do mundo se voltam para as movimentações em bases como Aviano e Sigonella, símbolos da aliança transatlântica e agora peças centrais em um possível tabuleiro de guerra que, até agora, segue sendo um jogo de expectativas, diplomacia e poder militar.
Até que ponto esse equilíbrio se sustentará? A resposta pode vir antes do fim de junho.