Em meio ao debate sobre tarifas e gastos públicos, o ministro da Defesa da Itália, Guido Crosetto, faz um alerta contundente: a construção de uma defesa comum na Europa é uma urgência tão vital quanto os desafios econômicos. “As tarifas são a emergência hoje? Sim, mas a rápida construção de uma defesa comum é igualmente urgente. Todos perceberão isso em breve”, afirmou ao jornal Corriere della Sera.
Crosetto traçou um paralelo entre o papel da defesa para o Estado e o papel da saúde para uma família. “A defesa, para um estado democrático, é como a saúde para uma família. Primária, básica: sem ela, o resto corre o risco de não existir”, enfatizou. O ministro destacou que o continente europeu vive hoje uma perigosa sensação de normalidade, esquecendo-se de que a paz foi, por décadas, garantida com a ajuda dos Estados Unidos. “Não estamos mais acostumados a lidar com isso: outros nos deram de presente. Agora não há alternativa.”
A fala do ministro ocorre em um momento delicado, com tensões crescentes tanto na fronteira oriental da Europa, com a guerra na Ucrânia, quanto no Oriente Médio, onde a instabilidade envolvendo o Irã e seus aliados — Hamas, Houthis e Hezbollah — preocupa governos ocidentais. Para Crosetto, os riscos são reais e urgem por uma resposta coordenada. “O medo é que não estejamos preparados para o que pode acontecer e também que não tenhamos tempo para isso. Precisamos acelerar tanto em nível nacional quanto na OTAN e na UE.”
Na avaliação do ministro, é essencial que a Europa cumpra os compromissos assumidos junto à OTAN, como o investimento mínimo de 2% do PIB em defesa. “Se a Europa e a Itália querem se defender, precisamos primeiro atingir aqueles 2%. Depois, precisamos ver como aumentar nossas contribuições de capacidades militares para a OTAN, também em um quadro geral europeu.”
Crosetto ainda fez questão de ressaltar a desproporção entre a capacidade militar dos EUA e dos países europeus. “Se, em economia, a América conta 100, em defesa ela conta 100 vezes mais.” Essa assimetria, segundo ele, não é sustentável diante de uma conjuntura internacional marcada por múltiplas ameaças.
O discurso do ministro marca uma tentativa clara de reposicionar a agenda da defesa como prioridade estratégica para a Itália e para a União Europeia. Em um momento de polarizações internas e disputas por orçamento, a mensagem é direta: não se trata apenas de deveres burocráticos ou compromissos internacionais, mas da própria sobrevivência de um modelo democrático que, sem segurança, fica exposto a riscos irreversíveis.