O número de cidadãos italianos que vivem fora da Itália aumentou significativamente em 2024, segundo dados provisórios divulgados pelo Instituto Nacional Italiano de Estatística (ISTAT). Ao final do ano, eram 6.382.000 italianos residentes no exterior, um crescimento de 4%, ou seja, 243.000 pessoas a mais do que no início do ano, quando o total era de 6.138.000.
Perfil Demográfico dos Italianos no Exterior
Entre esses italianos que vivem fora do país, a maioria é do sexo masculino (52%) e está concentrada principalmente na Europa (54%) e na América (40,9%). O restante está distribuído pela África (1,1%), Ásia (1,3%) e Oceania (2,7%). É importante destacar que quase um terço dessas pessoas nasceu na própria Itália, mas há uma tendência crescente de indivíduos que, após obterem a cidadania italiana, mudam-se para outros países europeus em busca de melhores oportunidades.
Motivações do Crescimento
De acordo com o ISTAT, o aumento no número de italianos no exterior é impulsionado por dois fatores principais: o crescimento da concessão da cidadania italiana e uma forte tendência migratória. Para 2024, estima-se que serão concedidas 121.000 novas cidadanias, um aumento de 4,4% em relação às 116.000 de 2023. Além disso, a migração líquida (diferença entre expatriados e repatriados) mais do que dobrou, passando de +53.000 em 2023 para +103.000 em 2024.
Esse movimento expressivo resulta tanto do aumento das expatriações quanto da redução das repatriações. Embora isso represente uma perda de capital humano para a Itália, contribui para o fortalecimento das comunidades italianas pelo mundo.
Aquisição de Cidadania: O Iure Sanguinis em Destaque
A maior parte das aquisições da cidadania italiana em 2023 ocorreu por descendência (52%), conhecida como iure sanguinis. Em seguida, vêm as aquisições por transmissão a menores coabitantes (37%) e por casamento (11%). A América Central e do Sul concentram mais de 90.000 dessas aquisições, destacando-se Brasil (41.000) e Argentina (33.000), ambas com números expressivos devido ao reconhecimento de descendência italiana.
Os consulados de São Paulo e Buenos Aires lideram as concessões, representando quase 30% do total. Em contrapartida, os países europeus apresentam números menores, com aproximadamente 14.000 aquisições.
Nascimentos, Mortes e Saldo Natural
O ano de 2024 também registrou mais de 27.000 nascimentos entre italianos residentes no exterior, superando as mortes, que ultrapassaram 8.000. Isso gera um saldo natural positivo de cerca de 19.000, um número similar ao de 2023. A maioria dos nascimentos ocorreu em países europeus, especialmente Alemanha, Suíça e Reino Unido.
A taxa geral de natalidade dos italianos no exterior é de 4,4 por mil, com variações regionais. A Europa apresenta as maiores taxas, enquanto as Américas, mesmo com grande concentração de italianos, têm taxas mais baixas devido à estrutura etária mais avançada desses residentes.
As mortes, por sua vez, também ocorrem majoritariamente na Europa, sendo que a taxa de mortalidade é maior entre os homens, que representam cerca de 75% dos falecimentos. Essa disparidade é explicada pela maior longevidade feminina e pela maior presença de homens entre os italianos residentes fora da Itália.
Fluxos Migratórios e Impacto da Legislação
Um fator que contribuiu para o aumento das expatriações foi a entrada em vigor da Lei nº 213, em dezembro de 2023, que aplica sanções administrativas a cidadãos italianos que residem no exterior por mais de 12 meses sem se registrar no Registro Italiano de Residentes no Exterior (AIRE). Isso fez com que mais italianos formalizassem sua residência fora do país.
As expatriações em 2024 chegaram a 156.000, um aumento de 36,5% em relação a 2023, enquanto as repatriações caíram 14,3%, totalizando 53.000. O saldo migratório permanece positivo, com 103.000 italianos vivendo no exterior a mais do que retornaram.
Principais Destinos
A Europa continua sendo o principal destino dos italianos, especialmente os países da União Europeia como Alemanha, Espanha, Reino Unido, Suíça e França. Juntos, esses países receberam mais da metade dos italianos expatriados. Fora da Europa, o Brasil e os Estados Unidos são os principais destinos.
A chamada “migração secundária” quando italianos que já residem no exterior mudam-se para outro país estrangeiro também é significativa. Em 2024, mais de 49.000 italianos mudaram-se entre países estrangeiros, com destaque para a Espanha, que atraiu quase 27,4% desses movimentos.
O crescimento constante do número de italianos vivendo fora do país reflete tanto uma dinâmica migratória renovada quanto o reforço das conexões da diáspora italiana com suas raízes. Embora isso represente desafios para a Itália em termos de perda de capital humano, também evidencia o protagonismo global dos cidadãos italianos e seus descendentes, que continuam a manter viva a cultura italiana mundo afora.