Nos últimos anos, a neve tem feito falta na Itália. A ideia de uma grande nevasca no Vale do Pó parece cada vez mais distante, e até regiões do sul, como a Sicília, têm registrado invernos mais amenos. Anticiclones persistentes secam o ar, elevam as temperaturas e bloqueiam a chegada das tempestades do Atlântico. Mas a neve ainda pode voltar e o processo é fascinante.
Quando o frio vem do leste
Nem todas as nevascas se formam de forma “clássica”. Às vezes, o ar frio vem do leste, empurrado por alta pressão na Rússia ou na Escandinávia, e chega até o Adriático. Esse ar seco e gelado passa sobre o mar relativamente quente, absorve umidade e, com a ajuda do vento de Bora, forma nuvens em faixas e chuvas de neve que atingem as costas do Adriático. Contornando os Apeninos, a neve chega às planícies do interior.
Foi assim em janeiro de 2017, quando o Adriático ficou branco e geadas persistentes se mantiveram por vários dias. Eventualmente, essa massa de ar frio atinge Piemonte e Lombardia, trazendo ventos fortes. A geografia local também influencia: a leste, a neve chega com mais força; a oeste, abrigada pelos Apeninos, a neve cai mais devagar, em flocos silenciosos e grossos.
Memórias de grandes nevascas
Dois episódios recentes mostram que a neve ainda pode surpreender. Em fevereiro de 1986, Roma e a Itália central registraram até 50 cm de neve, após uma combinação perfeita de ar frio e umidade do Mar Tirreno. Em fevereiro de 2018, a chamada “Besta do Leste” trouxe uma massa de ar gelada que cobriu Roma com alguns centímetros, paralisando escolas e transporte, enquanto o norte do país enfrentava dias de frio intenso. Esses eventos lembram que, com a combinação certa de pressão e temperatura, a neve ainda pode atingir lugares inesperados.
O papel do Ártico
O aquecimento acelerado do Ártico, chamado de Amplificação do Ártico, influencia nossos invernos. A perda de gelo marinho, mudanças na circulação atmosférica e oceânica e o aumento da temperatura dificultam a formação de ondas de frio fortes. Isso não significa que grandes nevascas sejam impossíveis, mas sim mais raras. Pesquisas ainda estudam como o aquecimento ártico impacta diretamente o frio intenso em regiões médias da Europa, incluindo a Itália.
A neve no Vale do Pó ainda existe, mas depende de condições especiais: ar frio suficiente, baixa pressão no lugar certo e a umidade necessária. Mudanças climáticas tornam tudo mais difícil, mas não impossível. Fique atento a sinais como geadas repetidas, alta pressão com pouco vento, frentes atlânticas ou massas frias do leste com vento forte. Quando essas condições aparecem, os flocos podem transformar as planícies italianas em verdadeiros cartões-postais de inverno, fazendo adultos se sentirem crianças novamente, mesmo que por poucas horas.






























