A burocracia continua sendo um dos maiores entraves para o crescimento econômico da Itália, especialmente no universo das pequenas e médias empresas (PMEs). O fenômeno, muitas vezes invisível aos olhos do grande público, tem impacto direto e severo sobre a produtividade e a competitividade do país. De acordo com o mais recente relatório do Gabinete de Investigação da CGIA de Mestre, o custo anual estimado da burocracia ultrapassa os 80 mil milhões de euros. Um número alarmante, que revela não apenas um problema de gestão pública, mas um verdadeiro obstáculo estrutural ao desenvolvimento empresarial.
O peso do papel: a rotina exaustiva das microempresas
A denúncia da CGIA é clara: “a burocracia é um drama insuportável” para as empresas italianas, sobretudo para as microempresas. São elas que mais sofrem com a complexidade normativa, sendo obrigadas a lidar diariamente com formulários para preencher, documentos a produzir, carimbos a autenticar e longas filas nas repartições públicas — tudo isso, muitas vezes, apenas para obter uma simples informação. Esse tempo perdido e a energia drenada poderiam ser investidos em inovação, expansão ou qualificação profissional, mas são sistematicamente desviados para atividades administrativas desnecessárias.
Digitalização insuficiente
Apesar de pequenas melhorias pontuais nos últimos anos, a situação permanece crítica. A digitalização dos serviços públicos ainda é considerada uma das mais baixas da Europa Ocidental, o que prolonga os prazos médios para emissão de licenças e autorizações e acentua a sensação de ineficiência administrativa. O dossiê da CGIA destaca que a Administração Pública italiana continua presa a processos arcaicos e excessivamente formais, que não acompanham o ritmo das necessidades econômicas modernas.
Um problema que atravessa fronteiras, mas afeta mais a Itália
Segundo uma pesquisa recente do Banco Europeu de Investimento (BEI), 90% das empresas italianas afirmam ter pessoal exclusivamente dedicado ao cumprimento de obrigações regulatórias. A porcentagem supera a média da União Europeia (86%) e os números registrados em outros países grandes como França (87%), Alemanha (84%) e Espanha (82%). O dado revela um quadro preocupante: a burocracia italiana não é apenas excessiva, mas também desproporcional em relação ao que se observa em outras economias desenvolvidas do bloco europeu.
Desigualdades regionais e fragilidade institucional
Os efeitos da burocracia não são uniformes em todo o território italiano. A pesquisa de 2024 da Universidade de Gotemburgo, que avalia a qualidade institucional das administrações públicas em 210 regiões da União Europeia, expõe um abismo entre o norte e o sul da Itália. A melhor colocada é Friuli Venezia Giulia (63º lugar), seguida por Trento (81º), Ligúria (95º) e Bolzano (96º). Já as regiões do sul aparecem entre as piores do continente: Puglia (195º), Calábria (197º), Molise (207º) e Sicília (208º). Essa disparidade territorial compromete a coesão nacional e agrava as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores do Mezzogiorno.
A Europa das boas práticas e o exemplo a seguir
Enquanto a Itália luta contra sua burocracia paralisante, outras regiões da União Europeia conseguem operar com mais eficiência. A região mais bem avaliada no ranking de Gotemburgo foi Åland, na Finlândia, exemplo de administração leve, transparente e funcional. Na outra ponta do espectro está Severozapaden, na Bulgária, com a classificação mais baixa. Comparações como essas servem não apenas como alerta, mas também como inspiração para políticas públicas mais eficazes e modernas.
Conclusão: A urgência de uma reforma verdadeira
A burocracia italiana, mais do que um mero entrave, tornou-se um verdadeiro “inimigo invisível” que penaliza as empresas, sufoca a inovação e mina a confiança no Estado. Para o país voltar a crescer com consistência, é indispensável simplificar processos, investir seriamente na digitalização da administração pública e reduzir o fardo regulatório, especialmente para as micro e pequenas empresas. A reforma da máquina burocrática deixou de ser uma escolha política e passou a ser uma necessidade econômica — urgente, profunda e inadiável.