As primeiras luzes do amanhecer revelaram uma cidade transformada. De todas as regiões italianas — Friuli, Sicília, Abruzzo, Puglia, Vale de Aosta — chegaram ônibus repletos de homens de chapéu verde e pena preta. Silenciosos, ordeiros, com olhos que carregam histórias e mochilas cheias de lembranças, eles marcharam. São os Alpini, as históricas Tropas Alpinas italianas, que hoje deram início ao Rally Nacional de 2025 com um desfile monumental pelas ruas de Biella.
Ao longo de dez horas de marcha, cerca de cem mil penas pretas cruzam a cidade — da Piazza Adua até a Via La Marmora — num cortejo que é mais que celebração: é um ato de identidade nacional. Desde as primeiras horas da manhã, Biella se converteu numa corrente viva de memória e emoção. Entre fanfarras, faixas, cânticos e passos firmes, o povo italiano acorreu para ver seus heróis marcharem. Nas varandas, nas janelas, nos passeios: aplausos, lágrimas, orgulho.
Uma História Que Marcha
Criadas em 1872, as Tropas Alpinas foram a primeira força militar especializada em combate em montanhas. Desde então, escreveram páginas intensas da história da Itália — dos frontes alpinos da Primeira Guerra Mundial às missões humanitárias em tempos modernos. Foram soldados, mas também socorristas, construtores, defensores da vida em zonas remotas. Um símbolo de serviço silencioso e contínuo.
Por isso, o desfile de hoje em Biella não é um simples ritual. É um hino à história viva da Itália, a um tipo de patriotismo que não se ostenta, mas se carrega com dignidade. Entre os presentes estavam jovens recrutas e veteranos de cabelos brancos, unidos por um mesmo chapéu e pela mesma causa.
Autoridades, Símbolos e Futuro
No palco oficial, montado para receber os convidados de honra, aguardam as principais autoridades do Estado: o Presidente do Senado, Ignazio La Russa, o Ministro da Defesa, Guido Crosetto, e o Ministro do Meio Ambiente, Gilberto Pichetto Fratin — bielense de origem, visivelmente emocionado. Estão acompanhados de representantes da Associação Nacional Alpina, líderes de seções estrangeiras e prefeitos de cidades ligadas à tradição alpina.
Ao cair da tarde, um momento simbólico encerrará o dia: a passagem do bastão de Biella para Gênova, cidade que sediará o Rally de 2026. Mas o presente é agora. Biella hoje é a capital moral de uma Itália que se reconhece em seus valores mais profundos: solidariedade, disciplina, memória e serviço.
Muito Além de um Desfile
Em meio a ruas tomadas, lenços acenando e vozes unidas em canto montanhês, o que se vê é um ritual civil e afetivo que atravessa gerações. Filhos aplaudem os pais. Netos observam com respeito. E os Alpini retribuem com olhares serenos, com passos firmes, com gestos pequenos que dizem muito.
É a história que caminha entre nós, sem pompa, mas com alma. E em cada pena preta que balança ao vento, Biella escuta um pouco de si mesma — e da Itália que resiste.