Quando pensamos em Pompeia, a mente geralmente remete aos luxuosos banquetes e vilas adornadas com mármore. Porém, por trás dessa fachada de riqueza, havia um mundo vibrante e cotidiano de tavernas, pousadas e bares de vinho, que atendia trabalhadores, viajantes e moradores comuns da cidade. Esses estabelecimentos revelam muito sobre a vida prática, social e econômica da Roma Antiga.
O Cotidiano nas Ruas de Pompeia
Ao longo das ruas movimentadas e becos enfumaçados, os balcões ferviam com ensopados quentes, jarras transbordavam de vinho barato e dados tilintavam sobre mesas de madeira desgastadas. Eram as cauponae, popinae, tabernae e thermopolia, verdadeiros centros de “fast food” da Roma Antiga.
Enquanto os senadores desfrutavam de triclínios de mármore, a maior parte da população frequentava esses espaços para se alimentar, beber e socializar rapidamente, em um ambiente ruidoso e animado.
Taberna: Um Nome, Muitas Funções
O termo taberna nem sempre teve um significado fixo. Arqueólogos do século XIX e XX aplicaram indiscriminadamente termos como taberna, caupona, hospitium e popina aos vestígios pompeianos, criando categorias que nem sempre refletem a realidade antiga.
Na Roma Antiga, taberna podia significar loja, espaço comercial ou ponto de venda de comida e bebida. Ulpiano definiu taberna amplamente como “todos os edifícios próprios para habitação”, enquanto inscrições funerárias distinguem tabernae de aedificia e habitationes, sugerindo que nem todas tinham a mesma função.
Etimologistas relacionam taberna a tabula (tábua) ou trabs (viga), lembrando sua origem como cabana simples, muitas vezes com fachadas de madeira e portas largas voltadas para a rua.
Hospitia, Cauponae, Tabernae e Popinae: As Faces da Hospitalidade
Em Pompeia, os estabelecimentos de comida e bebida se dividiam em quatro categorias principais:
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Hospitia: Locais de hospedagem que ofereciam quartos, refeições e bebidas. Alguns eram casas particulares adaptadas para esse fim.
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Cauponae: Pousadas mais modestas, atendendo clientes de menor poder aquisitivo. Ofereciam comida, bebida e, às vezes, quartos para pernoitar.
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Stabula: Hospedarias que incluíam baias para animais de carga, geralmente situadas perto das portas da cidade.
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Popinae: Restaurantes rápidos e informais, que serviam refeições simples e vinho, muito populares entre os trabalhadores, mas desprezados pela elite.
Tanto tabernas quanto popinae tinham balcões com dolia (jarros de armazenamento) e sistemas de aquecimento para servir comida e vinho quentes. Alguns estabelecimentos, como a famosa Taberna de Fortunata, contavam com fogões, nichos, latrinas e pequenas áreas de alimentação interna e externa.
Exemplos Notáveis
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Casa de Salústio: Uma residência samnita convertida em grande hospício. Tinha balcão de atendimento acessível da rua, quartos ao redor do átrio, triclínios internos e um agradável jardim externo.
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Stabulum de Hermes: Um negócio modesto com pintura do estalajadeiro servindo vinho, baias para animais, quartos para hóspedes e latrinas em dois andares.
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Caupona na Porta Ercolano: Pequena e compacta, com triclínios de jardim e quartos no andar superior, oferecendo refeições frias ou adquiridas de outro lugar.
Vida, Comércio e Sociedade
Esses estabelecimentos eram o coração pulsante da vida cotidiana em Pompeia. Recebiam visitantes de diferentes classes sociais, ofereciam comida, bebida e, em muitos casos, abrigo. Eles também eram espaços de interação social e comércio, abrigando desde vendedores e padeiros até médicos e barbeiros.
Em suma, as tabernas e bares de vinho de Pompeia revelam um lado da cidade raramente retratado em mármore ou em escritos clássicos: uma Roma prática, barulhenta e animada, onde o comércio e a hospitalidade se misturavam ao cotidiano de forma essencial e dinâmica.