RESUMO
Sem tempo? A Lili IA resume para você
No coração do Vale de Aosta, erguida entre rochas e histórias milenares, encontra-se Bard: uma vila que, apesar de seu tamanho modesto, desempenhou um papel estratégico e simbólico vital ao longo dos séculos. Situada no ponto em que o vale se estreita, formando uma passagem natural entre a planície e os Alpes, Bard é muito mais que um vilarejo encantador — é um testemunho vivo da passagem de povos, exércitos, culturas e impérios.
As Origens Pré-Históricas e Romanas
As raízes humanas em Bard remontam ao período Neolítico (cerca de 8000–3500 a.C.), como provam as pinturas rupestres ainda visíveis no Archeoparc, na área do atual cemitério. Milênios depois, os romanos também reconheceram o potencial estratégico da região. Foi aqui que construíram a Via delle Gallie, uma importante estrada militar e comercial que ligava Roma às Gálias, deixando vestígios ainda preservados tanto em Bard quanto em localidades vizinhas.
A vila, como núcleo urbano, nasceu ao longo desta rota, com suas primeiras casas alinhadas nas margens da estrada. Era um ponto de passagem e cobrança de pedágio, vital para quem seguia em direção à França ou descia rumo às grandes cidades da península Itálica.
Entre Fronteiras e Fortificações
Do século VI ao XIX, Bard representava uma barreira política e cultural. Era a fronteira sul do Ducado de Aosta, marcando a divisão entre regiões que passaram a receber diferentes influências — ao sul, a cultura do Vale do Pó; ao norte, os ventos dos territórios alpinos e franceses.
A posição de Bard sempre fez dela um ponto de controle e abastecimento essencial. Desde os tempos romanos, passando pelos peregrinos da Via Francigena, a vila oferecia pouso, alimentação, troca de cavalos, oficinas de ferreiros e outros serviços para os viajantes e exércitos que cruzavam os Alpes.
O Forte: De Bastião Medieval a Protagonista Napoleônico
No alto de um afloramento rochoso, controlando a entrada do vale, foi erguida a primeira fortificação romana. No século IX, o local foi transformado em castelo. No século XII, o senhorio de Bard estabeleceu-se formalmente, ligado ao bispado de Aosta. Com o tempo, a fortificação foi reforçada — especialmente após 1242, quando passou para o controle direto da Casa de Saboia.
No século XVII, Bard foi consolidado como a principal guarnição do Ducado de Saboia no vale. A fortaleza chegou a resistir bravamente, em maio de 1800, à investida das tropas de Napoleão Bonaparte, que atravessavam os Alpes pelo Passo do Grande São Bernardo. O Forte resistiu por mais de duas semanas, o que atrasou a campanha de Napoleão. Apesar da valentia, acabou sendo rendido e destruído por ordem direta do imperador francês. Leia mais sobre: Reviva a história em Aosta na 8ª edição da Napoléonica, de 31 de maio a 2 de junho de 2025, com batalhas, desfiles e experiências imersivas.
Renascer de uma Fortaleza
Com medo de novos conflitos com a França, o rei Carlo Felice mandou reconstruir o Forte de Bard. Entre 1830 e 1838, sob os desenhos do engenheiro Francesco Antonio Olivero, nasceu a atual estrutura: um conjunto monumental composto por três edifícios principais — Ópera Carlo Alberto, Ópera Vittorio e Ópera Ferdinando — interligados por passagens cobertas. Nunca mais envolvido em conflitos, o Forte permaneceu como símbolo de resistência e engenharia militar.
No século XX, perdeu sua função estratégica. Após a Primeira Guerra Mundial, foi usado como prisão e armazém até ser desativado pelo Exército Italiano em 1975. Em 1990, a Região do Vale de Aosta iniciou sua completa restauração, transformando-o em um centro cultural e turístico de referência.
Hoje, é possível subir gratuitamente até o Forte por elevadores panorâmicos ou a pé por uma trilha interna. O acesso ao complexo é livre, e a entrada nos museus se dá mediante bilhete.
Um Patrimônio Vivo
Entre os museus do Forte, destacam-se:
-
Museu dos Alpes: Uma imersão na vida e no ambiente alpino, com dioramas, vídeos e ambientes interativos.
-
Prisões: Com celas restauradas, documentos históricos e homenagens a personagens importantes da história do Forte.
-
Museu de Fortificações e Fronteiras: Uma leitura detalhada sobre a evolução das táticas militares e do conceito de fronteira.
O Forte também ganhou fama internacional ao aparecer nas cenas iniciais do filme Vingadores: Era de Ultron (2015), consolidando-se como um ícone cinematográfico.
A Vila: Silêncio, História e Tradição
A vila de Bard se estende ao longo da antiga Via delle Gallie, hoje Via Vittorio Emanuele II. Com pouco mais de 100 habitantes e uma superfície de 3 km², é o menor município do Vale de Aosta — mas sua importância histórica é imensa.
A entrada é feita através do arco da Casa Nicole, palácio do século XVIII, ainda marcado por balas do cerco napoleônico. Pelo caminho, encontramos a Casa Valperga, com janelas em cruz e afrescos preservados, e a pitoresca Casa Ciucca. A vila é um verdadeiro museu a céu aberto, com arquitetura preservada e uma atmosfera que parece suspensa no tempo.
Como Chegar ao Forte di Bard
O imponente Forte di Bard, que domina a paisagem do alto da colina, pode ser acessado de diversas formas, tanto a pé quanto de carro ou transporte público.
Se você estiver caminhando, o acesso mais prático é pela rodovia estadual 26, utilizando uma série de elevadores panorâmicos gratuitos. O primeiro deles fica na Via Vittorio Emanuele II, a única rua principal da vila, a poucos metros do cruzamento com a estrada principal. Basta atravessar um portão bem sinalizado à direita. Outra opção, mais charmosa e ideal para quem gosta de caminhar, é seguir pela estrada de pedestres que começa atrás da igreja de Santa Maria Assunta, no final da vila. A dica é: suba de elevador para curtir a vista incrível pelas janelas e desça a pé para explorar cada detalhe dos edifícios históricos ao longo do percurso.
Se vier de carro, há um estacionamento pago com acesso direto aos elevadores, entrando pela própria estrada estadual. Próximo dali, ao seguir um pouco mais em direção a Aosta, há também estacionamentos gratuitos, com uma curta caminhada até a vila. Em dias mais movimentados, especialmente no verão, é possível parar o carro em Hône, a cidade vizinha, e caminhar até Bard atravessando uma ponte sobre o rio Dora Baltea. Mas atenção: o centro histórico de Bard é uma zona de tráfego limitado, e só é possível circular de carro com autorização.
Para quem prefere o transporte público, a estação Bard-Hône recebe trens regionais da linha Ivrea–Aosta. De lá, são apenas 500 metros de caminhada até o centro da vila. Também é possível chegar com os ônibus da linha 110 (Aosta – Pont-Saint-Martin), operados pela Arriva, que param bem perto da entrada de Bard.
Onde Comer
Depois de explorar o Forte di Bard e suas vistas deslumbrantes, nada melhor do que fazer uma pausa para saborear as delícias locais.
Dentro do próprio Forte, com acesso pelo pátio da Ópera di Gola, você encontra a Caffetteria di Gola, ideal para um lanche rápido ou um café com vista. O ambiente é aconchegante, e as janelas panorâmicas oferecem uma vista espetacular do vale — perfeita para recarregar as energias antes ou depois da visita.
Se a ideia for um almoço mais completo, o restaurante La Polveriera, também no interior do Forte, oferece um menu com pratos típicos do Vale de Aosta, valorizando os sabores da região em um ambiente histórico e acolhedor.
Na vila de Bard, logo aos pés do Forte, há ainda bares, cafés, lojas de vinho, sorveterias e lojinhas de produtos típicos e souvenirs. É um ótimo lugar para passear com calma, provar especialidades locais ou comprar lembranças. Apenas um lembrete: durante a baixa temporada, muitos estabelecimentos abrem somente nos fins de semana — então vale programar a visita com isso em mente.
Conclusão
Bard é um lugar onde as pedras contam histórias. Um vilarejo que resistiu ao tempo, às guerras e às mudanças das rotas comerciais. Hoje, ao passear por suas ruas silenciosas ou explorar os corredores do Forte, é possível sentir a força de um passado que ainda pulsa — e que, graças à preservação e à cultura, continua a ser contado às novas gerações.