A ideia de viver na Itália encanta muitos brasileiros, seja pela cultura, pela qualidade de vida ou pelas oportunidades que o país oferece. Mas quando o assunto é dinheiro, a pergunta que muitos fazem é: será que dá para viver com um salário de cerca de 1.300 euros por mês em uma cidade como Torino? Essa é a realidade de muita gente que chega aqui, especialmente aqueles que começam do zero.
Marcelo, ítalo-brasileiro de 38 anos e ex-bancário no Brasil, enfrentou de perto o desafio de recomeçar a vida em outro país. Após conquistar a cidadania italiana, decidiu se mudar para Torino, no norte da Itália, onde precisou se reinventar profissionalmente. Longe da antiga carreira, assumiu o cargo de magazziniere (estoquista) em uma empresa de logística. Sua trajetória revela os sacrifícios, os aprendizados e as escolhas necessárias para construir uma vida digna, mesmo lidando com um orçamento apertado e longe da zona de conforto.
O Desafio Real de Recomeçar em Torino
Você pode contar um pouco da sua história e como foi mudar para a Itália?
Marcelo: “No Brasil, trabalhei muitos anos como gerente de banco. Era um trabalho com muita responsabilidade e o salário era razoável, entre 8.500 – 9.300 reais por mês. Mas, apesar disso, eu não tinha a qualidade de vida que queria. A cidade onde eu morava (SP) era cara e a rotina muito cansativa. Quando apareceu a chance de vir para a Itália, resolvi tentar, mesmo sabendo que teria que começar tudo de novo. Eu já tinha a cidadania italiana reconhecida pelo consulado, então a papelada estava toda pronta, o que ajudou bastante. Mas eu só sabia o básico do italiano e só aprendi direito quando cheguei aqui. Hoje não recomendo isso, porque perdi boas oportunidades por não falar bem o idioma.”
Como é viver com um salário de 1.300 euros em Turim? Dá para levar a vida?
Marcelo: “Não é fácil, claro. O aluguel toma quase 60% do meu salário, então já é uma parte muito grande. Depois vem as contas de luz, gás, que dão uns 10%. Comida fica em torno de 15%, e a gasolina, que uso para o carro, mais uns 10%. No final, sobra pouco, e às vezes no inverno, quando as contas de energia aumentam, quase não sobra nada. Em alguns meses eu consigo guardar um pouco, mas não é sempre.”
Você sente que sua qualidade de vida melhorou morando na Itália?
Marcelo: “Sim, mas é uma situação bem diferente, viu? No Brasil, eu ganhava bem, mas parecia que o dinheiro nunca dava, porque tudo custava muito e o estresse era constante contas, trânsito, segurança. Aqui na Itália, com 1.300 euros, o salário é base, não vou mentir, principalmente porque o aluguel come quase metade disso. Mas eu consigo pagar as coisas essenciais, me sinto mais seguro e tranquilo. A saúde pública funciona, o transporte é confiável, e isso faz diferença no dia a dia. Não é moleza, Imprevistos sempre aparecem, né? Às vezes o carro quebra ou preciso comprar algo urgente. Com o salário de 1.300 euros, acabo usando o que sobrou do mês ou, em casos mais complicados, preciso pegar um empréstimo pequeno ou ajuda de amigos. Não é fácil, mas aprendi a guardar um pouco todo mês para emergências, mesmo que não seja muito.”
Como é a rotina de trabalho e lazer com esse orçamento?
Marcelo: “Trabalho bastante, o serviço é pesado e cansativo. Nos dias de folga, tento aproveitar o que a cidade oferece sem gastar muito: parques, museus com entrada gratuita ou barata, e encontro os amigos em casa. Sair para jantar ou fazer algo caro não rola sempre, é algo mais raro. Mas acho que consigo ter uma vida equilibrada, mesmo com o orçamento apertado.”
Você sente falta do Brasil?
Marcelo: “Claro que sinto, especialmente da família e dos amigos. A comida também. Mas aqui me sinto mais seguro e tenho mais tranquilidade no dia a dia. A distância é difícil, mas acho que foi uma escolha que me trouxe mais qualidade de vida, pretendo no próximo ano visitar meus familiares.”
Quais são seus planos para o futuro?
Marcelo: “Quero continuar melhorando meu italiano, talvez voltar a trabalhar na minha área de contabilidade, quem sabe. Também quero juntar dinheiro para comprar um imóvel, porque o aluguel é pesado. A longo prazo, sonho em me estabelecer bem aqui, construir uma vida estável, mesmo que simples.”
Vale a pena morar na Itália?
Marcelo: “Essa é a pergunta que todo mundo me faz, e a resposta não é tão simples. Eu acho que vale a pena, sim, mas depende do que você está buscando e do que está disposto a enfrentar.”
“Se for só dinheiro, talvez não seja o melhor lugar a Itália. Com 1.300 euros por mês, a vida é apertada, principalmente porque o aluguel aqui em Turim consome quase 60% do meu salário. Além disso, energia, gás, comida e transporte também pesam no orçamento. Tem meses que sobra quase nada, e outros, no inverno, quando as contas aumentam, fica ainda mais difícil.”
“Mas, por outro lado, tem muita coisa boa. A qualidade de vida aqui é melhor para mim do que quando eu vivia no Brasil, mesmo ganhando menos. Aqui eu me sinto mais seguro, posso andar na rua tranquilo, acesso saúde pública sem grandes problemas, e o transporte funciona. Isso faz uma diferença enorme no dia a dia.”
“Eu não trabalho na minha área de formação, que é contabilidade, e faço um trabalho mais braçal como magaziniere, aquele que mexe com logística e usa aqueles carrinhos no depósito mas ainda assim prefiro essa estabilidade e a organização que vejo na Itália.”
“No fim das contas, morar na Itália vale a pena para quem quer qualidade de vida, segurança e um sistema público que funciona, mesmo que o salário não seja alto. Mas é preciso ter paciência, aprender o idioma e estar preparado para uma nova realidade, começando do zero.”
Recomeçar a Vida na Itália
Começar ou melhor recomeçar a vida na Itália exige muita responsabilidade, dedicação ao aprendizado do italiano e esforço constante para se integrar à comunidade local. Não basta apenas chegar; é preciso compreender que o processo é longo, cheio de obstáculos e desafios que exigem força e perseverança. Viver com um salário como o de Marcelo demanda uma resiliência significativa, planejamento financeiro cuidadoso e, acima de tudo, uma consciência realista das dificuldades que surgirão ao longo do caminho.
Nem sempre será fácil equilibrar todas as despesas com um orçamento apertado, especialmente considerando o alto custo de vida em muitas cidades italianas. A jornada rumo à estabilidade financeira e profissional pode se estender por anos, e nem sempre os resultados serão imediatos. Para quem pensa em migrar, é fundamental avaliar com calma os prós e contras, entender que o crescimento pode ser lento e que a adaptação cultural e linguística é parte essencial do processo.
Portanto, mudar-se para a Itália com um salário modesto é uma experiência que requer não apenas coragem, mas também uma postura muito pragmática. O sucesso dependerá da capacidade de se organizar, aprender, se relacionar e, principalmente, resistir às dificuldades do começo. Só assim será possível construir uma nova vida, mesmo que o caminho seja desafiador e cheio de incertezas.
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Vamos conversar e agendar uma entrevista no seu tempo. Sua vivência pode ajudar muitas outras pessoas a se prepararem melhor para essa jornada.