Quando eu cheguei na Itália, achei que ia continuar vivendo como sempre vivi, só que em outro país. Mas a verdade é que, mesmo sem grandes intenções, comecei a mudar. E nem percebi. Foram nos detalhes, nos jeitos, nos ritmos. E é engraçado pensar como, aos poucos, fui adotando pequenos hábitos italianos que hoje fazem parte da minha rotina.
Se você já mora aqui, talvez vá se identificar. E se ainda tá planejando vir, já fica o aviso: a Itália vai entrar em você de forma sutil e deliciosa.
O “buongiorno” que conecta
No começo eu achava meio formal demais ficar dizendo “buongiorno” pra todo mundo: no bar, na padaria, na farmácia. Mas logo entendi que aqui, isso é quase um código de respeito. Um jeito simples de dizer “ei, eu vejo você”. Frequentar as piazzas e se abrir para o dia a dia local pode render amizades sinceras, boas conversas e uma bela evolução no seu italiano!
Nem todo italiano é xenófobo. Aliás, a maioria das pessoas que você vai encontrar no seu Comune vai te tratar com simpatia, (falar um pouquinho de italiano já te ajuda e muito!) principalmente se você estiver aberto a sorrir, cumprimentar e puxar conversa. Uma boa dica é frequentar as piazzas da sua cidade: elas são o coração da vida social italiana. Ali você encontra vizinhos, senhores que jogam cartas, jovens tomando gelato e muita vida acontecendo.
Com o tempo, você vai perceber que essas interações casuais te ajudam a desenvolver o italiano de um jeito natural e autêntico. Uma conversa sobre o tempo pode virar um café, e um bom dia pode virar uma amizade. Só não vale se isolar. A Itália é feita de encontros!
Comer devagar, com prazer (e sentada)
Talvez um dos hábitos que mais me transformou foi a forma de comer. No Brasil eu já almocei em pé na cozinha, com o celular na mão, pensando no que tinha pra fazer depois. Aqui, comer virou pausa. Virou prazer. E mesmo nas refeições mais simples, eu sento, respiro, provo.
Se você já tá aqui há um tempinho, aposto que também parou de almoçar correndo. E se ainda vai chegar, já se prepara: comer com pressa vai começar a parecer esquisito.
Nada de suco no almoço
Eu sempre gostei de tomar algo além de água nas refeições. Mas aqui, não. Água é a bebida padrão. Um vinho, às vezes. E cappuccino depois da pizza? Jamais. Isso eu aprendi rápido.
Hoje eu nem penso em pedir outra coisa. É automático. E sabe o que é curioso? Faz todo o sentido.
Roupas de acordo com a estação (mesmo que não pareça lógico)
Essa é curiosa. Eu jurava que sabia me vestir bem pra cada clima, até perceber que na Itália as estações são quase um código visual coletivo. Está 17 graus? Se for primavera, todo mundo tá de blusinha. Se for outubro, os casacos já estão nas ruas. Leia mais sobre: As Estações do ano na Itália.
E sem perceber, eu entrei no jogo. Comecei a guardar roupas por estação, usar lenço no pescoço no outono e me sentir inadequada de sandália em setembro. Leia mais sobre: Diferença Entre Roupas Para Frio Seco e Frio Úmido – O Que Vale a Pena Comprar.
Caminhar por tudo
Essa é uma das mudanças que eu mais gostei. Comecei a andar mais. Não só por necessidade, mas porque faz parte do jeito italiano de viver a cidade. As ruas são vivas, os centros históricos são pensados pra pedestres. E, de repente, caminhar virou meu momento favorito do dia.
Se você já tá morando aqui, provavelmente também sentiu isso. E se ainda não veio, confia: seus pés vão virar seu melhor meio de transporte.
Falar com as mãos (e o rosto todo)
Essa mudança é involuntária. Um dia, me vi explicando uma coisa com a mão espalmada, balançando o ombro e franzindo a testa. E pensei: virei italiana.
A comunicação aqui é corporal. É intensa. E, sinceramente, é libertadora. Porque você se expressa de verdade, sem filtro.
O tempo ganhou outro ritmo
Uma das coisas mais bonitas que aprendi é respeitar o tempo. O tempo das coisas, das pessoas, da pausa. Comecei a tomar meu café da manhã com calma. A esperar sem reclamar. A entender que nem tudo precisa ser urgente.
E isso muda tudo. A vida fica mais leve, mais humana.
E aí, você também mudou?
Pra quem já mora aqui, aposto que você se pegou dizendo “boh…” ou usando as mãos sem perceber. E pra quem ainda está planejando a vinda, fica o convite: observe os detalhes. Eles contam muito sobre o jeito italiano de viver, e é aí que mora a verdadeira beleza da experiência.
No fim das contas, a gente não vira outra pessoa. Mas se transforma, um hábito de cada vez.