Se você está se perguntando por que o Carrefour decidiu sair da Itália, saiba que essa saída não foi exatamente uma surpresa. A rede de supermercados já vinha enfrentando dificuldades no país há algum tempo. E, somando isso a uma série de problemas também no cenário internacional, a venda das lojas italianas para o grupo NewPrinces acabou se tornando uma escolha estratégica.
Você vai entender, de forma clara, os motivos que levaram o Carrefour a tomar essa decisão.
A Estratégia Que Não Deu Certo
Nos últimos anos, o Carrefour Itália apostou em um modelo que parecia vantajoso à primeira vista: transformar suas lojas em franquias. A ideia era economizar com custos operacionais, repassando o comando das unidades a empresários locais, que poderiam continuar usando a marca e o sistema de distribuição do Carrefour.
Só que, na prática, isso não funcionou como o esperado. Muitas das lojas que viraram franquias já estavam com desempenho fraco. Em vez de se fortalecer, continuaram enfrentando os mesmos problemas, só que agora com menos apoio da empresa.
Hoje, mais de 900 das cerca de 1.200 lojas Carrefour na Itália funcionam como franquias. Mas o que era para ser uma solução se transformou em mais uma dor de cabeça. A empresa perdeu o controle direto sobre as operações, o que dificultou manter a qualidade, a padronização e a competitividade.
O Problema dos Preços
Outro motivo importante foi o preço. O Carrefour nunca conseguiu competir de verdade com outras redes que oferecem produtos mais baratos. Em um país onde os consumidores se tornaram cada vez mais atentos aos gastos, especialmente por causa da inflação, essa falha foi decisiva.
Enquanto redes como a Eurospin cresceram apostando em descontos, o Carrefour foi perdendo espaço. Entre 2019 e 2023, sua participação no mercado italiano caiu de 5,8% para 3,7%. A imagem de supermercado caro ficou difícil de mudar.
Um exemplo disso foi a Apulia Distribuzione, uma das empresas que operavam lojas com a marca Carrefour no sul da Itália. Ela rompeu o contrato e criou sua própria marca, deixando o nome Carrefour para trás.
Investigações e Custos Trabalhistas
Além das falhas estratégicas, o Carrefour também teve que lidar com problemas legais. Em 2025, a Justiça italiana determinou que a empresa contratasse cerca de 3.000 trabalhadores que antes atuavam em cooperativas terceirizadas. O motivo foi uma investigação sobre exploração de mão de obra na área de logística.
A empresa ainda teve mais de 60 milhões de euros bloqueados em créditos fiscais e precisou pagar 12 milhões de euros ao sistema previdenciário italiano. Esses custos inesperados aumentaram ainda mais o prejuízo.
A crise do Carrefour não ficou restrita à Itália. Em 2021, a empresa recebeu uma proposta de compra de uma multinacional canadense, mas o governo francês barrou a negociação. No mesmo ano, o Carrefour tentou comprar outra rede francesa, a Auchan, e também não conseguiu.
As ações da empresa na bolsa de valores de Paris começaram a cair e só recentemente houve uma leve recuperação, puxada pelos bons resultados na França, Espanha e Brasil. Mesmo assim, o Carrefour Itália fechou 2024 com um prejuízo de cerca de 150 milhões de euros.
A Venda para o Grupo NewPrinces
Diante desse cenário, o Carrefour decidiu vender sua operação na Itália por mais de 1 bilhão de euros. O comprador é o grupo NewPrinces, resultado da fusão entre a italiana Newlat Food e a britânica Princes. A marca Carrefour será mantida por três anos. Depois disso, o grupo pretende reativar a marca GS, antiga rede de supermercados que o Carrefour havia comprado em 2000.
O Que Você Precisa Saber
Se você mora na Itália ou acompanha o mercado de supermercados, essa mudança representa muito mais do que uma troca de nome. Ela mostra como uma estratégia mal planejada, somada à forte concorrência e a problemas internos, pode fazer até uma grande marca perder espaço.
O modelo de franquia, que parecia eficiente, acabou tirando o controle do Carrefour sobre suas próprias lojas. A dificuldade de competir em preço afastou consumidores. E os escândalos envolvendo o setor de logística trouxeram altos custos e prejudicaram ainda mais a imagem da empresa.
A saída do Carrefour da Itália é o resultado de uma série de erros acumulados. Agora, o grupo NewPrinces assume o desafio de reconquistar a confiança dos consumidores italianos e dar um novo rumo às lojas que, por enquanto, ainda levam o nome Carrefour.
O Carrefour vai parar de existir na Itália?
Sim e não.
A marca Carrefour ainda vai continuar existindo por mais 3 anos, mas não será mais controlada pela empresa francesa Carrefour Group.
O que vai acontecer na prática
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O Carrefour vendeu todas as suas operações na Itália para o grupo NewPrinces, um conglomerado ítalo-britânico.
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Durante os próximos 3 anos, a NewPrinces vai continuar usando a marca Carrefour nas lojas (isso faz parte do contrato de venda).
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Depois desse período, a marca Carrefour será substituída pela marca GS, que é italiana e pertence ao histórico do varejo local. Ela já existia antes de ser comprada pelo Carrefour em 2000.
E por que isso importa?
Porque embora o nome “Carrefour” continue por enquanto, toda a gestão, decisões comerciais, estratégia de preços, logística e identidade da rede passam a ser responsabilidade da NewPrinces. Ou seja, você ainda vai ver o nome “Carrefour” na fachada, mas a empresa por trás será outra.
E para os consumidores?
No curto prazo, pouca coisa muda visivelmente. Mas ao longo dos próximos meses e anos, é provável que:
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Mudanças nos preços, produtos e promoções comecem a aparecer.
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Haja uma transição gradual para a marca GS, com nova identidade visual e talvez nova filosofia de atendimento.