Em fevereiro de 2025, a Itália viu a inflação dar um salto, atingindo 1,6%, um aumento em relação aos 1,5% registrados no mês anterior. Embora o número em si não seja estrondoso, seu impacto no dia a dia das famílias italianas é profundo, especialmente no que diz respeito ao poder de compra, que continua a diminuir. Um dos principais responsáveis por esse aumento é o setor alimentar, cujos preços estão subindo de forma acelerada, pressionando ainda mais o orçamento das famílias.
O Impacto da Inflação nos Alimentos
O aumento no preço dos alimentos não é uma novidade, mas, em fevereiro de 2025, a aceleração foi mais significativa, com a cesta de compras subindo 2,0%, comparado a 1,7% no mês anterior. A inflação nos produtos alimentícios tem sido uma das maiores preocupações para as famílias italianas, afetando não apenas as compras diárias, mas também as economias de quem já luta com orçamentos apertados. A aceleração foi visível tanto nos alimentos processados quanto nos não processados, refletindo a dinâmica global de aumento de preços.
Esses aumentos, segundo Chiara Rubbiani, presidente da Federcosumatori Arezzo, têm um impacto mais pesado nas famílias mais vulneráveis, como as que dependem de salários precários ou aposentadorias mínimas. “Com esses aumentos, os segmentos mais fracos da população são sempre os mais atingidos”, explica Rubbiani. De fato, enquanto alguns itens se tornam mais caros, outras estratégias estão sendo adotadas para mascarar esses aumentos, como a diminuição do tamanho dos pacotes de produtos, mantendo os preços inalterados ou até mais altos. “Gastamos o mesmo, mas compramos menos”, pontua a presidente.
A Realidade das Famílias na Itália
A situação é ainda mais difícil para aqueles que estão vivendo com uma renda limitada. Quando uma grande parte da receita é consumida por despesas básicas, como alimentos e energia, pouco resta para outras necessidades essenciais. Isso cria um ciclo de frustração e ansiedade, especialmente para os italianos que, apesar de todo o esforço, não conseguem ver uma melhoria real em sua qualidade de vida. Para muitas famílias, as necessidades básicas de sobrevivência se tornam a principal preocupação, tornando difícil pensar em projetos ou economias para o futuro. Os italianos têm adotado uma série de estratégias para contornar o aumento no custo de vida, especialmente com a inflação em alta e os preços de alimentos e serviços essenciais subindo.
1. Atenção Redobrada nas Compras
Uma das primeiras estratégias adotadas é uma vigilância mais rigorosa durante as compras de supermercado. Muitas famílias estão começando a comparar os preços por unidade ou peso, em vez de apenas observar o preço total dos produtos. Isso permite que eles encontrem as melhores ofertas e evitem pagar mais por pacotes menores ou produtos com embalagem reduzida, um truque comum adotado por marcas para mascarar aumentos de preço.
2. Busca por Marcas Próprias e Produtos de Desconto
Outra maneira de reduzir custos é optando por marcas próprias dos supermercados ou produtos de desconto. As marcas dos supermercados, frequentemente com um preço mais baixo do que as marcas conhecidas, têm ganhado mais espaço nas prateleiras, especialmente entre as famílias que tentam cortar custos sem abrir mão da qualidade. Muitos também recorrem a grandes redes de desconto, que oferecem preços mais baixos, mesmo que isso signifique comprometer um pouco a variedade de produtos.
3. Redução no Consumo de Alimentos Processados
Com o aumento no preço de alimentos processados, muitos italianos estão voltando para uma alimentação mais simples, baseando suas compras em produtos frescos, como vegetais, legumes, frutas e carne, que podem ser mais baratos em alguns casos. Além disso, muitos estão cozinhando mais em casa, evitando comer fora ou pedir comida delivery, práticas que costumam ser caras e que afetam ainda mais o orçamento familiar.
4. Compra de Produtos a Granel e Promoções
A compra de produtos a granel tem sido uma forma de reduzir custos, já que essa modalidade geralmente oferece melhores preços por unidade. Muitos italianos estão comprando grãos, cereais, massas e outros produtos essenciais dessa forma. Além disso, a busca por promoções e ofertas de desconto se intensificou, com as famílias ajustando seus hábitos de compra ao calendário de promoções dos supermercados.
5. Uso de Cartões de Desconto e Programas de Fidelidade
Além disso, o uso de cartões de desconto e programas de fidelidade dos supermercados se tornou uma prática comum. Esses cartões oferecem descontos exclusivos e pontos que podem ser convertidos em prêmios ou em abatimentos nas compras futuras, ajudando as famílias a economizar ao longo do tempo.
O Que Esperar nos próximos meses de 2025?
Infelizmente, a previsão para os próximos meses não é animadora. Durante o período da Páscoa, por exemplo, é esperado um aumento nos custos de transporte, com uma estimativa de aumento de 51% nos preços de passagens de trem, 60% nas passagens aéreas nacionais, e 41% para voos internacionais. “Esses são outros custos que sempre recaem sobre os trabalhadores e aposentados”, destaca Rubbiani. As previsões indicam que o aumento nos preços de transporte, particularmente durante feriados, só vai piorar as dificuldades financeiras de quem já enfrenta uma realidade de salários e pensões estagnados.
Para muitos italianos, a inflação crescente e o custo de vida elevado são sintomas de um problema maior: a estagnação econômica. “Não há perspectiva. A crescente inflação e o aumento dos preços têm forçado os italianos a se adaptarem a uma nova realidade econômica. A busca por alternativas mais baratas e práticas mais conscientes está se tornando cada vez mais comum. Ao focar em escolhas mais econômicas, como marcas próprias, produtos a granel, transporte público e entretenimento acessível, as famílias italianas estão tentando manter o orçamento equilibrado diante das dificuldades financeiras. No entanto, enquanto as estratégias de adaptação podem amenizar o impacto, a incerteza quanto ao futuro econômico ainda paira sobre muitos italianos, que continuam a lutar para manter seu padrão de vida em um ambiente inflacionário.
A escassa renda que temos só serve para a sobrevivência”, conclui Rubbiani. A falta de uma visão clara de futuro é uma das grandes preocupações, especialmente para aqueles que já vivem em condições precárias, sem a possibilidade de planejar ou melhorar sua situação financeira.