A mudança mais recente acende um alerta: a obrigatoriedade de declarar cinco anos de atividade em redes sociais para obter o ESTA, a autorização eletrônica que permite viajar sem visto. A medida faz parte de uma nova proposta publicada pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) em 10 de dezembro e afeta diretamente cidadãos italianos e turistas de todos os países que integram o Programa de Isenção de Vistos (VWP).
Mas o que exatamente mudou? Por que agora? E o que o viajante precisa fazer?
O que mudou no ESTA: da opção à obrigação
Até hoje, o formulário do ESTA incluía um campo opcional para redes sociais uma pergunta que muitos deixavam em branco. Isso vai deixar de existir.
A proposta da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) transforma esse item em informação obrigatória, e isso inclui:
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Todos os nomes de usuário utilizados nos últimos 5 anos
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Números de telefone usados no mesmo período
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Endereços de e-mail dos últimos 10 anos
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Endereços residenciais antigos
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Possível inclusão futura de:
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Endereços IP recentes
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Metadados de fotos
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Expansão de dados biométricos: reconhecimento facial, íris, impressões digitais e até DNA
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Além disso, o processo migra para um formato centrado no aplicativo móvel, onde o viajante deverá tirar uma selfie obrigatória diretamente no app oficial.
Por que isso está acontecendo agora?
A resposta está na nova ordem executiva assinada por Donald Trump no início de seu segundo mandato. O documento exige que o DHS endureça a triagem digital de todos os visitantes estrangeiros, reforçando a prevenção de ameaças terroristas e riscos à segurança pública.
A lógica do governo é clara:
Melhor barrar alguém antes de embarcar do que avaliar riscos apenas no aeroporto.
A triagem, portanto, deixa de ser apenas fronteiriça e passa a ser social e prévia.
O precedente de 2019 e o novo alvo: turistas
Desde 2019, solicitantes de visto já eram obrigados a fornecer cinco anos de histórico de redes sociais (DS-160 e DS-260). A Justiça americana validou a regra, afirmando que, embora haja impacto na liberdade de expressão, o governo possui discricionariedade em temas de segurança.
Agora, a novidade de 2025 é a extensão dessa lógica aos países que não precisam de visto — Itália entre eles.
Isso significa:
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Procedimentos antes simplificados agora ficam mais longos e detalhados
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O ESTA passa a funcionar como uma pré-entrevista digital obrigatória
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A análise do perfil online se torna decisiva
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Solicitações podem ser negadas antes do embarque
Impactos práticos para viajantes italianos
Se aprovada, a regra exigirá dos italianos (e dos demais países do VWP):
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Listar todas as contas de redes sociais dos últimos 5 anos
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Incluir telefones antigos
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Fornecer e-mails históricos
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Informar dados adicionais sobre familiares
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Tirar uma selfie no aplicativo do ESTA
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Preencher formulários mais longos e complexos
Atualmente, o ESTA custa US$ 40 e vale por 2 anos, mas a expectativa é que o tempo de preenchimento aumente para cerca de 22 minutos, segundo estimativa citada pela Business Travel News.
Críticas e preocupações: liberdade de expressão em debate
Organizações como a Electronic Frontier Foundation (EFF) alertam para riscos importantes:
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Autocensura por medo de monitoramento
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Pressão para deixar perfis privados mais públicos
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Coleta excessiva de dados sem garantias de proteção
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Risco de interpretação equivocada de conteúdos irônicos, políticos ou satíricos
A preocupação central é que a exigência torne a liberdade de expressão formalmente permitida, mas praticamente vigiada.
Tendência global: EUA não estão sozinhos
A digitalização da triagem fronteiriça é uma tendência mundial:
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Reino Unido lançou o ETA
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União Europeia lançará o ETIAS
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EUA agora caminham para criar o sistema mais abrangente, coletando:
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5 anos de redes sociais
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10 anos de e-mails
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múltiplos dados biométricos
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O movimento global é semelhante, mas o escopo americano é muito mais amplo.
O que fazer agora: orientações práticas para viajantes
Enquanto a regra ainda está em consulta pública, as recomendações são claras:
1. Preencha tudo com precisão
Evite omitir:
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Contas secundárias
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Perfis antigos
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Usuários alternativos
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Perfis públicos mantidos por hobby
Omissões podem ser interpretadas como declarações falsas.
2. Mantenha registro das suas informações digitais
Para quem viaja com frequência, é prudente registrar:
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Mudanças de e-mail
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Trocas de número
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Nomes de usuário antigos
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Plataformas desativadas ou abandonadas
3. Revise a coerência entre sua vida real e sua vida digital
As autoridades cruzam dados. Discrepâncias chamam atenção.
4. Acompanhe a publicação da regra final
Até que a medida seja formalizada, o ESTA continua seguindo as regras atuais.
Os Estados Unidos estão redefinindo o que significa viajar ao país: não basta mais comprovar quem você é — agora, você precisa comprovar como você se apresenta online.
A fronteira deixou de ser física.
Ela agora também é social, digital e retrospectiva.
Para os viajantes italianos e de todos os países do Programa de Isenção de Vistos, o recado é direto: prepare-se para formularios mais longos, processos mais rígidos e uma relação cada vez mais transparente entre sua vida digital e sua intenção de cruzar as fronteiras americanas.






























