A relação entre carreira, família e vida pessoal tem se transformado significativamente para as mulheres ao longo das últimas décadas. Horários de trabalho, papel dos parceiros e desafios na conciliação entre maternidade e realização profissional são questões que evoluíram, mas ainda apresentam desigualdades. Para entender como essas mudanças afetaram diferentes gerações, conversamos com quatro mulheres de idades e trajetórias distintas: Margherita Scialino (22 anos), Michela Cecotti (50 anos), Antonella Magaraggia (65 anos) e Adriana Negrisolo (76 anos). Através de suas experiências, analisamos avanços e desafios ainda presentes no equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
A Nova Geração: Autonomia e Novos Paradigmas
Margherita Scialino, jornalista em formação, ressalta a importância da autodeterminação feminina. Para ela, a ideia de que a família deva ser um obstáculo para a realização profissional precisa ser superada. “Acredito que os paradigmas tradicionais de casal precisam ser revistos. Cada mulher deve ter o direito de se realizar profissionalmente sem que isso represente uma escolha entre carreira e vida pessoal.”
Apesar dos avanços, Margherita aponta que ainda há desafios a serem superados. “Jovens mulheres no mercado de trabalho muitas vezes não são levadas a sério ou são vistas como menos competentes. Além disso, a educação financeira deve ser incentivada para garantir maior independência econômica feminina.”
Michela Cecotti: Liderança Feminina e Equidade de Gênero
Empresária no setor metalmecânico, Michela defende que a diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho ainda é uma realidade. “Vemos mulheres ocupando funções antes reservadas aos homens e pais assumindo papel ativo na criação dos filhos, mas ainda existem diferenças salariais e dificuldades de ascensão profissional para mulheres.”
Embora nunca tenha tido filhos, Michela ressalta que o cuidado com familiares é um desafio para muitas mulheres. “A propensão ao cuidado é um traço historicamente atribulado às mulheres, e isso impacta a forma como nos relacionamos com o trabalho. Mesmo sem filhos, muitas de nós precisam lidar com a assistência a familiares idosos ou doentes, o que exige tempo e dedicação.”
Antonella Magaraggia: A Luta por Espaço na Magistratura
Magistrada e presidente do Ateneo Veneto, Antonella enfatiza a evolução das mulheres no setor jurídico. “Quando começamos, foi uma subida difícil, mas hoje as mulheres são maioria na magistratura. No entanto, ainda há um longo caminho para que o compartilhamento de responsabilidades dentro de casa seja uma realidade.”
Para Antonella, o verdadeiro avanço ocorrerá quando os homens assumirem a gestão familiar de forma natural, e não apenas por delegação. “A igualdade real virá quando o envolvimento dos homens na família for espontâneo, sem que as mulheres precisem atribuir-lhes tarefas.”
Ela também observa uma resistência das novas gerações em discutir feminismo. “As jovens precisam entender que os direitos que temos hoje foram conquistados com muito esforço e que ainda há muito a ser feito. Enquanto houver violência de gênero, não podemos considerar essa luta superada.”
Adriana Negrisolo: Maternidade e Trabalho nos Anos 70
Para Adriana, ex-enfermeira e docente, conciliar carreira e maternidade foi um desafio significativo. “Nos anos 70, trabalhávamos 40 horas semanais, e as mulheres com cargos de liderança tinham jornadas ainda mais longas. Sem o apoio da minha mãe, nunca teria conseguido ser mãe e profissional ao mesmo tempo.”
Adriana destaca que os avanços nos direitos trabalhistas, como o congedo parental, representam um progresso fundamental. “Quando me tornei mãe, a legislação que protegia as trabalhadoras ainda era recente. Hoje, há mais suporte para as mulheres que desejam equilibrar carreira e família, mas ainda enfrentamos problemas como a falta de creches acessíveis.”
Equilíbrio Entre Vida Pessoal e Profissional
Com o apoio do Departamento de Ciências Estatísticas da Universidade de Pádua, realizamos uma pesquisa para compreender a percepção sobre a carga mental entre homens e mulheres no mercado de trabalho. A cada 8 de março, a desigualdade de gênero e as diferenças salariais são discutidas, mas será que essas questões são levadas a sério nos outros dias do ano?
Os dados preliminares apontam que, apesar dos avanços, ainda há uma desigualdade significativa na distribuição de tarefas domésticas e no impacto da maternidade na progressão profissional das mulheres. A pesquisa também revela que muitas mulheres sentem que precisam provar constantemente sua competência no ambiente de trabalho, enquanto os homens ainda se beneficiam de padrões mais flexíveis de avaliação.
A trajetória feminina no mercado de trabalho reflete avanços, mas também desafios persistentes. O aumento da participação masculina nas tarefas domésticas é uma realidade crescente, mas a distribuição ainda é desigual. Além disso, questões como igualdade salarial, reconhecimento profissional e acesso a suporte para a maternidade continuam sendo pautas urgentes.
As quatro mulheres entrevistadas representam diferentes momentos dessa evolução, mas compartilham uma certeza: ainda há muito a ser feito para que a conciliação entre carreira e vida pessoal seja verdadeiramente equitativa.
Matéria elaborada pela: ilnordest.it