RESUMO
Sem tempo? A Lili IA resume para você
Nascer em um país e crescer sentindo-se parte dele, mas não ter oficialmente o direito de ser reconhecido como cidadão, é a realidade de muitos jovens como Alina. Apesar de ter vivido toda a sua vida na Itália, falado o idioma e se identificado culturalmente, ela precisou enfrentar um longo e exaustivo processo burocrático para obter a cidadania que sempre sentiu sua por direito.
Esta história revela não apenas as barreiras administrativas, mas também o impacto humano e emocional que a ausência de reconhecimento legal pode causar — desde a exclusão social até a negação de direitos fundamentais como o voto. A seguir, conheça o relato da Alina, que expõe com sinceridade as humilhações, a frustração e a luta para finalmente se tornar oficialmente italiana.
Uma jornada marcada por burocracia pesada, desconfiança e momentos de humilhação.
“Eu achava que era italiana”
Alina sempre acreditou que era italiana, afinal, nasceu em solo italiano e cresceu ali. “Quando ouviram meu sobrenome, me perguntaram se eu era italiana. E eu disse sim. Só depois, quando uma amiga levantou dúvidas, perguntei para minha mãe. Ela me explicou que não: eu não era italiana, era romena, como ela”, conta.
A revelação não foi um choque imediato, mas aos poucos, as diferenças começaram a pesar, principalmente na escola. “Havia uma lista de nomes para uma excursão escolar e ao lado de cada nome a cidadania. Eu era a única sem a palavra ‘italiana’. Eu tinha um passaporte, mas não uma carteira de identidade italiana. Isso me deixou desconfortável”, lembra.
A vontade de votar e participar da vida civil
Alcançar a maioridade fez Alina querer exercer um direito fundamental: votar. “Quando completei 18 anos, quis votar, senti que tinha de o fazer. O referendo de 8 e 9 de junho seria minha primeira oportunidade, e eu não queria perder isso. E pensar que já poderia ter votado nas eleições da Romênia e nem pensei nisso. Isso mostra o quanto me sentia romena”, afirma.
“O processo foi humilhante”
Com a decisão tomada, Alina e sua mãe foram à Câmara Municipal de Roma para iniciar o pedido de cidadania. O que encontrou foi decepcionante: “Um escritório sórdido, triste e pouco acolhedor, no centro de Roma, naquela linda praça. E as pessoas? Nunca tinha presenciado um racismo tão explícito. Os funcionários estavam mal-humorados, exaustos, tratavam mal quem falava mal italiano ou não tinha pele branca. Comigo e minha mãe, que falamos bem italiano e temos traços europeus, foram um pouco mais gentis. Mas parecia que uma funcionária tentava provocar cumplicidade comigo ao fazer comentários desagradáveis sobre os presentes. Eu a encarei”, relata.
Além do ambiente hostil, a burocracia se mostrou absurda: “Eles pediram até o certificado do jardim de infância, mesmo eu estando no ensino médio clássico. Eu nasci aqui, sempre me senti italiana, e não sei uma palavra de romeno. É absurdo!”, desabafa.
Filas, documentos e dias de aula perdidos
O Cartório de Cidadania abre apenas um dia por semana em horário estendido, o que significava perder um dia de aula para Alina e muitos outros jovens. “Para cerca de 80 pessoas, havia só dois balcões. Fomos os últimos. O funcionário me olhou e disse: ‘Você não parece feliz por estar aqui.’ Eu estava cansada, estressada e frustrada. Quando ele pediu meus documentos, achávamos que tínhamos tudo, mas faltavam os boletins escolares e o certificado da creche. Eu não os trouxe porque não achei que fossem necessários.”
Alina ainda recorda a tristeza da cena ao lado: “Uma menina que trouxe quase tudo, menos os boletins, foi repreendida pela funcionária e começou a chorar. Eu também queria chorar de raiva e estresse. Dei um sorriso cúmplice para ela. Estávamos no mesmo barco.”
Entre confusões e cobranças inesperadas
Apesar de tudo, os documentos chegaram rápido, e Alina recebeu um novo agendamento para a entrega final. Porém, veio a surpresa da cobrança: “No e-mail, estava escrito que teria de pagar 250 euros mais 35 euros pelo juramento. Isso me pareceu absurdo, uma quantia alta para uma adolescente.” Mesmo assim, quando chegou na Prefeitura para pagar, teve que voltar porque os boletins não estavam anexados ao pedido. “Eles estavam errados, mas o transtorno foi todo nosso.”
O juramento e a recusa da foto
Finalmente, o momento do juramento chegou. “Assinei o documento, parecia um contrato. Na sala de juramento havia uma foto do presidente Mattarella na parede. Quando me ofereceram uma foto como lembrança, recusei. Disseram que era uma ‘boa lembrança’, eu respondi que era uma ‘má lembrança’. Minha mãe ficou brava, mas eu não me arrependo.”
Hoje, Alina é oficialmente italiana. “Só a partir de hoje, porque até ontem eu era romena!”, sorri.
Reflexão final
Alina destaca que sua experiência foi difícil, mas acredita que para muitos o processo é ainda pior e mais humilhante. “No dia 8 de junho irei votar, mais consciente e convicto, principalmente sobre a questão da cidadania.”