A Itália caminha na contramão de outras nações europeias ao criar novas barreiras para aqueles que nasceram e cresceram no país. Uma proposta de lei apresentada pela Liga prevê a introdução de um exame de integração, aumenta o período de residência necessário e facilita a revogação da cidadania, gerando críticas sobre a desconfiança do Estado em relação aos seus próprios filhos.
Atualmente, jovens nascidos na Itália de pais estrangeiros podem solicitar a cidadania apenas ao completarem 18 anos, desde que tenham vivido no país de forma ininterrupta. O processo, embora já complexo, não exige testes, mas a lei limita a solicitação a um período de apenas um ano. Quem perde o prazo precisa esperar três anos de residência legal para tentar novamente.
A proposta da Liga elimina essa exceção e eleva o requisito de residência de três para dez anos — o mesmo aplicado a estrangeiros adultos. Na prática, um jovem que cresceu no país e não solicitou a cidadania até os 19 anos teria que esperar até os 28 anos para tentar novamente.
“Nasci em Salerno, cresci entre Bassano e Vicenza, estudei em Bolonha e hoje trabalho entre a Itália e Bruxelas. Penso em italiano desde que nasci, mas precisei esperar 22 anos para obter a cidadania. Será justo que uma jovem de 18 anos enfrente essa espera?”, questiona um cidadão afetado pelas regras atuais.
Além do aumento do período de residência, a proposta prevê um exame de integração para testar o conhecimento da língua e das normas sociais e jurídicas. A medida atinge mesmo aqueles que cresceram na Itália, estudaram em suas escolas e participam ativamente da sociedade.
Outras mudanças incluem o aumento do tempo de residência para cidadãos europeus (de quatro para oito anos) e apátridas (de cinco para dez anos), possibilidade de revogação da cidadania por condenações superiores a três ou cinco anos e restrições mais rigorosas ao reagrupamento familiar, incluindo triplicação do limite de renda e seguro de saúde obrigatório.
Especialistas alertam que, enquanto países como Alemanha, França e Espanha reduzem os requisitos para integrar seus nascidos ou residentes de longa data, a Itália endurece regras. “A cidadania, que deveria ser um instrumento de coesão social, transforma-se em barreira. Testes de integração não medem a participação real na sociedade”, afirma um jurista especializado em direito migratório.
A proposta surge em um contexto preocupante: o país perde mais de 280 mil habitantes por ano e enfrenta envelhecimento populacional. Para críticos, medidas como essas afastam jovens que cresceram na Itália, ao invés de reconhecer seu vínculo com o país.
“Um país não se fortalece restringindo o acesso à cidadania; fortalece-se reconhecendo aqueles que mantêm sua sociedade viva todos os dias”, conclui o especialista.






























