A Puglia virou a “bola da vez” e, com isso, trouxe os preços altos e as multidões de verão. Mas existe uma Puglia que sobreviveu ao hype: a das cidades de pedra silenciosas, dos açougues que viram restaurante à noite e das igrejas que deixam qualquer um sem fôlego.
Se você quer ver o sul da Itália autêntico e gastar metade do que gastaria em agosto, este é o plano.
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Quando ir: A janela de ouro é final de setembro e início de outubro. O mar ainda está quente (herança do verão), mas os preços de hospedagem despencam e você consegue andar nas vielas sem esbarrar em ninguém.
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Como se mover: Alugue um carro. A Puglia “raiz” não é conectada por trem.
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A Base: Divida a estadia: 2 noites no norte (perto de Bari/Monopoli) e 2 noites no sul (Salento), para não passar o dia todo na estrada.
Dia 1: Bari Sem Filtro (E Com Muito Sabor)
Esqueça a ideia de que Bari é perigosa ou feia. Bari Vecchia é o coração pulsante da região.
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O Passeio: Perca-se nas vielas de Bari Vecchia. Sim, passe na famosa Via dell’Arco Basso para ver as senhoras fazendo orecchiette na rua, mas vá além. Entre na Basilica di San Nicola, um lugar raro onde católicos e ortodoxos rezam sob o mesmo teto. É místico.
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Onde Comer: Fuja dos menus turísticos. Procure a La Uascezze ou a Osteria Le Arpie.

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O Prato Obrigatório: Riso, Patate e Cozze (arroz, batata e mexilhão). É a prova de que a cozinha simples é a mais sofisticada.
Dia 2: O Interior Dramático (E o Pão Mais Famoso)
Em vez de seguir a manada para Matera (que é incrível, mas lotada), descubra a vizinha desconhecida.
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A Descoberta: Gravina in Puglia. Imagine uma cidade pendurada num cânion, cheia de pontes romanas e cavernas, cenário de 007, mas sem turistas. É gratuita e visualmente impactante.
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A Parada Estratégica: No caminho, pare em Altamura. Não precisa visitar nada específico, apenas entre numa padaria antiga e compre o Pane di Altamura (DOP). É considerado o melhor pão da Itália e custa 1 euro.
Dia 3: Valle d’Itria
Os trulli (aquelas casinhas cônicas) são lindos, mas Alberobello virou um shopping a céu aberto. Vamos fazer diferente.
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A Rota Branca: Visite Locorotondo ou Cisternino. São vilarejos circulares, brancos, impecáveis e, o melhor, silenciosos. A vista do vale é surreal.
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Dica de Insider: Se fizer questão de ver trulli em Alberobello, vá direto ao bairro Rione Aia Piccola. É a única parte onde ainda moram locais de verdade.
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A Experiência da Noite: Em Cisternino, jante num Fornello Pronto. É uma tradição genial: você entra no açougue, escolhe sua carne (peça Bombette, bolinhos de carne recheados com queijo), eles assam na hora e te servem numa mesinha na rua. Vinho da casa, conta barata e zero frescura.
Dia 4: O Barroco Escondido
Agora descemos para o Salento, o “salto da bota”. Mas em vez de praia lotada, vamos ver arte.
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A “Assis do Sul”: Dirija até Galatina para ver a Basilica di Santa Caterina d’Alessandria. Prepare-se: o interior é inteiramente coberto de afrescos coloridos, do chão ao teto. É uma das igrejas mais impressionantes da Itália e quase ninguém visita.

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Fim de Tarde: Relaxe em Nardò. Uma praça barroca que parece cenário de filme, mas calma. Sente-se e peça um caffè leccese (café expresso com gelo e leite de amêndoa).
Dia 5: Mosaicos e Despedida no Mar
Vamos ao ponto mais oriental da Itália para fechar a viagem.
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A História no Chão: Em Otranto, entre na Catedral não só pela arquitetura, mas para olhar o chão. Existe um mosaico medieval gigantesco (do ano 1163) que é um mistério: mistura Rei Arthur, Alexandre o Grande e cenas bíblicas. É fascinante.
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O Último Mergulho: Volte dirigindo pela costa adriática. Pare na Grotta della Poesia (linda para ver de cima) ou na Cala dell’Acquaviva, uma enseada pequena com água fresca que parece uma piscina natural, perfeita para lavar a alma antes de ir embora.
O Veredito: O Que Vale (E O Que É Furada)
Para fechar, aqui vai o meu filtro honesto depois de bater perna na Puglia, para você não perder tempo nem dinheiro.
O Que Vale Muito a Pena
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Dormir em uma Masseria: Mesmo que seja só por uma noite, a experiência de ficar nessas fazendas fortificadas antigas é única. Existem opções simples (agriturismo) que não custam uma fortuna e te colocam no meio das oliveiras.
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Comer na rua: Focaccia barese, panzerotto frito na hora e puccia. É barato, é fresco e é a verdadeira comida local.
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Dirigir pelas estradas secundárias: As rodovias são rápidas, mas as estradas provinciais (entre oliveiras milenares e muros de pedra seca) são a viagem em si.
O Que Não Vale (Na Minha Opinião)
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Alberobello no meio do dia: É lindo? É. Mas das 10h às 16h é um inferno de grupos de excursão. Se for, vá no nascer do sol ou à noite.
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Polignano a Mare: A praia é minúscula e instagramável demais. Você vai ver mais gente do que água. Prefira ver a vista das varandas e nadar em calas vizinhas menos famosas.
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Restaurantes com menu em 5 línguas: Regra universal que na Puglia vale em dobro. Se o cardápio tem fotos dos pratos na porta, fuja. O melhor restaurante é aquele onde o dono grita o menu do dia porque não deu tempo de imprimir.
A Puglia recompensa quem tem curiosidade. Saia da rota principal, entre na igreja pequena, peça a recomendação do garçom e aproveite o ritmo lento do sul. Buon viaggio!



































