Um estudo conduzido pelo Brigham and Women’s Hospital e publicado no The New England Journal of Medicine identificou três biomarcadores sanguíneos capazes de prever, a prazo de 5 e 10 anos, o risco cardiovascular e a probabilidade de AVC (ictus) na população feminina. A pesquisa acompanhou 27.939 mulheres saudáveis por 30 anos, até janeiro de 2023, e aponta indicadores que podem ajudar a identificar pacientes com maior risco e, assim, priorizar intervenções preventivas.
O AVC é uma condição cerebrovascular grave responsável por cerca de 7,25 milhões de óbitos anuais no mundo. A maior parte dos diagnósticos ocorre em pessoas com mais de 65 anos, com maior incidência em homens, mas as mulheres também enfrentam risco significativo, especialmente quando associadas a fatores de risco conhecidos.
Tipos e causas do AVC
O AVC acontece quando o aporte sanguíneo ao cérebro diminui ou cessa, privando o tecido cerebral de oxigênio e levando à morte das células afetadas. Existem duas formas principais:
- Isquêmico: causado por um coágulo sanguíneo (muitas vezes originado do coração) ou por acúmulo de placas de gordura nas artérias cerebrais, que causam estreitamentos ou obstruções.
- Hemorrágico: ocorre quando um vaso cerebral se rompe, por exemplo em decorrência de hipertensão arterial crônica, malformações arteriovenosas, aneurismas cerebrais ou traumas.
Independentemente do tipo, alguns fatores elevam substancialmente a probabilidade de ocorrência do evento: hipertensão arterial, tabagismo, diabetes, obesidade, dislipidemia, fibrilação atrial, sedentarismo, idade avançada e histórico familiar.
Detalhes do estudo
Participaram da pesquisa 27.939 mulheres nos Estados Unidos, com média de idade inicial de 54,7 anos. As voluntárias forneceram informações sobre comportamento, estilo de vida e dados demográficos, e foram acompanhadas de forma prospectiva por até 30 anos, com avaliação periódica de eventos cardiovasculares e de AVC.
Os pesquisadores concentraram-se em três biomarcadores sanguíneos relacionados à inflamação e ao risco cardiovascular:
- Proteína C-reativa de alta sensibilidade (hs-CRP)
- Colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade)
- Lipoproteína(a) ou Lp(a)
A proteína C-reativa de alta sensibilidade é um marcador de inflamação produzido pelo fígado em resposta a infecções, lesões teciduais, estados inflamatórios crônicos e distúrbios metabólicos como obesidade e diabetes. Valores de hs-CRP acima de 3 mg/L são geralmente considerados indicativos de inflamação significativa e associados a maior risco cardiovascular.
O colesterol LDL é conhecido como um importante fator de risco aterosclerótico: níveis elevados favorecem a formação de placas nas artérias, aumentando a chance de eventos isquêmicos. Já a lipoproteína(a), em grande parte determinada geneticamente, tem sido reconhecida como um fator de risco independente quando elevada; concentrações acima de aproximadamente 50 mg/dL costumam ser interpretadas como de maior risco cardiovascular.
Implicações clínicas
Segundo os autores, a mensuração rotineira desses biomarcadores em mulheres pode melhorar a estratificação do risco e auxiliar na decisão de medidas preventivas — como controle rigoroso da pressão arterial, redução do LDL por meio de intervenção dietética e farmacológica, investigar e monitorar níveis de Lp(a) quando indicado, e abordar fatores de estilo de vida (tabagismo, obesidade e sedentarismo).
Os achados reforçam a importância de uma abordagem preventiva personalizada, sobretudo em mulheres na meia-idade, para reduzir a incidência de AVC e outras complicações cardiovasculares ao longo da vida.
Fonte: The New England Journal of Medicine. Estudo do Brigham and Women’s Hospital — artigo completo disponível em: Il Giornale



























