A proposta da Comissão Europeia de impor a proibição completa de venda de novos carros com motor a combustão a partir de 2035 sofreu uma mudança significativa após pressões da indústria automotiva. Nesta terça-feira, o Executivo da União Europeia apresentou uma proposta que limita a restrição a **90% dos veículos**, em vez dos **100%** aprovados anteriormente.
Na prática, isso significa que, a partir de 2035, **10% dos novos carros** poderão continuar a ser veículos plug-in híbridos ou mesmo equipados com motor de combustão interna, desde que as emissões residuais sejam compensadas por outras medidas definidas pela Comissão.
Em comunicado, a instituição detalhou que “a partir de 2035, os construtores terão de cumprir uma meta de redução de emissões no escapamento de **90%**, enquanto as emissões restantes de **10%** terão de ser compensadas através do uso de **aço de baixo carbono**, **e‑combustíveis** ou **biocombustíveis**”. A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, afirmou que a Europa permanece “na vanguarda da transição limpa global”, apesar do ajuste nas metas.
O recuo representa um revés para as ambições climáticas do bloco. A União Europeia tem a obrigação legal de alcançar a **neutralidade carbônica até 2050**, e o setor de automóveis e veículos comerciais responde por cerca de **15% das emissões de gases de efeito estufa** do bloco. A eliminação progressiva dos veículos poluentes era, portanto, um pilar central da política climática europeia.
Fontes e declarações indicam que a proposta da Comissão é, em grande parte, uma concessão à indústria automotiva europeia, que enfrenta elevados custos de energia, concorrência global acirrada — sobretudo da China — e tarifas que afetam as exportações para os Estados Unidos. Além disso, produtores europeus vêm relatando uma demanda por veículos elétricos abaixo do esperado em alguns mercados e problemas com a infraestrutura de recarga, que não é homogênea em todo o continente.
Antes do anúncio oficial, o jornal Reuters noticiou que Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu (EPP), maior bancada do Parlamento Europeu, havia defendido a supressão total da proibição, afirmando que se tratava de um “erro de política industrial”. A expectativa é de que a proposta da Comissão receba respaldo dos legisladores europeus.
Organizações ambientais reagiram com preocupação. Tim Dexter, gerente de políticas do grupo de defesa ambiental T&E, alertou que a diluição da proibição pode ter “consequências significativas para o clima”, pois envia a mensagem de que compromissos de longo prazo podem ser revertidos justamente quando começam a gerar reduções reais de emissões.
O ajuste também ocorre em um contexto global de recuos na estratégia por veículos elétricos. Recentemente, a Ford anunciou uma redução em seus planos de eletrificação que resultará em uma provisão contábil de US$ 19,5 bilhões contra ganhos, movimento que evidencia desafios enfrentados por montadoras que investiram pesadamente em EVs diante da mudança nas regras e do ambiente político em mercados-chave como os Estados Unidos.
Além das metas de 2035, a Comissão Europeia apresentou, junto com a alteração, um pacote de medidas para apoiar a indústria automotiva durante a transição, sem detalhar todos os mecanismos financeiros e regulatórios que serão adotados.
O debate deve se intensificar nas próximas semanas no Parlamento Europeu e entre governos nacionais, numa disputa que coloca em confronto prioridades industriais e metas climáticas. Para defensores do clima, a redução do alcance da proibição é um sinal preocupante; para a indústria automotiva, pode representar um alívio diante de incertezas econômicas e comerciais.
Fonte: CNN International — https://edition.cnn.com/2025/12/16/business/eu-combustion-engine-ban-changed-intl



























