Investigada pela Justiça italiana, Angela Lano é apontada como figura central na gestão do portal Infopal e num suposto circuito financeiro que teria beneficiado organizações como Hamas e influência ligada ao Hezbollah. Segundo reportagem exclusiva do Infobae assinada por Maria Zuppello, declarações e documentos públicos indicam movimentações entre Itália e Brasil que hoje estão sob escrutínio das autoridades.
De acordo com as investigações, a diretora do site teria recebido cerca de 300.000 euros de uma das sociedades atribuídas a Mohammad Hannoun, considerado um exponente di rilievo da cúpula de Hamas na Itália. Em paralelo, Lano teria constituído, em 27 de fevereiro de 2023, uma empresa registrada em seu nome com sede em Salvador, no estado brasileiro da Bahia.
Os dados públicos da receita federal brasileira mostram que a sociedade — também chamada Infopal — foi registrada sob o código 5812, categoria que identifica empresas dedicadas à publicação de jornais ou sites. A mesma empresa, segundo registros, foi baixada poucos meses depois, em 6 de novembro de 2023.
Há ainda um site com domínio brasileiro cujo copyright aparece válido até 2025. O portal exibia majoritariamente conteúdos em italiano, com uma mudança de estratégia editorial percebida a partir de outubro do mesmo ano: até 26 de outubro, o arquivo histórico do InfoPal.it estava disponível em italiano com opção de tradução automática para o português; a partir de 27 de outubro, a tradução e as publicações em português brasileiro passaram a ser feitas por tradutores humanos, segundo o próprio site.
O site dirigido por Lano deu destaque a figuras locais como Sayid Marcos Tenório, vice‑presidente do Instituto Brasil‑Palestina (IBRASPAL). Tenório foi citado em inquérito no Brasil relacionado à Operação Trapiche, deflagrada em novembro de 2023 e que, conforme as autoridades brasileiras, interrompeu supostos planos de ataques de elementos do Hezbollah contra alvos israelenses no país.
Documentos policiais da Operação Trapiche apontam que Tenório manteve trocas de mensagens via WhatsApp em 2018 com um dos suspeitos procurados pela Interpol, Mohamad Khir Abdulmajid, com o objetivo de abrir um centro islâmico em Brasília ligado ao Centro Islâmico Xiita da capital (CCBIB).
Especialistas consultados pela reportagem reforçam o quadro de risco. Emanuele Ottolenghi, pesquisador sênior no Centro de Pesquisa sobre o Financiamento do Terrorismo (CENTEF) e consultor da 240 Analytics, afirmou que Tenório, por meio do IBRASPAL, teria promovido interesses favoráveis a Hamas e mantido proximidade com atores associados ao regime iraniano. A reportagem lembra ainda que agências de imprensa iranianas republicaram conteúdos relacionados em abril passado.
As novas informações levantam questões sobre o entrelaçamento de iniciativas de comunicação e redes de financiamento ou apoio transnacionais. As investigações italianas continuam em andamento e a Procuradoria mantém o caso sob sigilo em vários pontos, enquanto as autoridades brasileiras aprofundam as apurações que envolvem a Operação Trapiche e as conexões locais.





























