Dentro do amplo espectro da esquerda italiana cresce um alerta quase unânime: Elly Schlein é vista como uma figura promissora, mas ainda carece de experiência política para encarar o desafio mais alto — o de chegar a Palazzo Chigi. O diagnóstico não vem apenas de adversários, mas de representantes do próprio campo progressista que pedem prudência para não desperdiçar um potencial considerado valioso.
Angelo Bonelli, figura de referência da esquerda radical, confidenciou a Pier Ferdinando Casini que “Elly poderia esperar — ha tempo para puntare a Palazzo Chigi. Se ajudasse ad individuare un candidato vincente sarebbe una vera leader“. Em tom semelhante, Nicola Fratoianni, em frente à piazza Montecitorio, afirmou que, com apenas quarenta anos, Schlein poderia consolidar sua estatura política se conduzisse o processo de escolha de um nome competitivo: “Ha appena quarant’anni. Se guidasse il processo per trovare un nome competitivo assumerebbe la statura del leader“.
Entre os que duvidam, há também o moderado Ernesto Ruffini, que admite não ver em Schlein um viável primeiro-ministro por ora — um posicionamento compreensível por representar outra face do chamado “campo largo”. Mas quando as ressalvas partem de setores próximos à própria Schlein, a recomendação coletiva é de reflexão estratégica: trata-se de conselhos práticos para preservar um patrimônio político ainda em formação.
Os exemplos históricos são invocados como advertência. Berlusconi e Prodi consolidaram-se ao vencerem seu primeiro confronto eleitoral; Francesco Rutelli acabou esquecido após fracassar na primeira prova; Massimo D’Alema também viu a trajetória decair após alcançar o governo em condições particulares; já Matteo Renzi e Giorgia Meloni percorreram caminhos distintos até o topo, com experiência e batalhas internas que prepararam sua chegada a cargos executivos. Neste quadro, o risco para Schlein seria “queimar-se” antes mesmo de ocupar a sala dos bottoni.
Por isso circula, entre críticos e observadores, uma variação da famosa canção de Gigliola Cinquetti: “non ho l’età” — ou, no caso, “não tem a idade“. Em um país com população envelhecida e marcado por crises internacionais e uma esquerda fragilizada, pesa a percepção de falta de experiência ministerial: ao contrário de Meloni, que já havia sido ministra anos antes de assumir o governo aos 45, Schlein ainda não conhece intimamente a rotina de um ministério.
O momento político também não ajuda. Apesar dos problemas do governo atual — refletidos em dificuldades com a lei de Orçamento e outros tropeços — as pesquisas permanecem inalteradas; isso alimenta o temor de que o resultado do eventual confronto entre Schlein e Giorgia Meloni já esteja definido. Muitos, inclusive aliados históricos como Sandra Zampa, lembram que para merecer o papel de protagonista nacional é preciso mais do que carisma: exige-se maturidade política, uma estratégia de coalizão e a capacidade de propor um projeto eleitoral competitivo.
O “paradoxo Elly” resume-se assim: talentosa e jovem, ela representa uma pista valiosa para o futuro da esquerda italiana, mas corre o risco de ver sua carreira consumida prematuramente se for lançada ao ápice da disputa sem construção progressiva e sem as etapas que moldaram outros líderes recentes.
Fonte: Il Giornale — https://www.ilgiornale.it/news/interni/schlein-cinquetti-nostra-leader-non-ha-l-et-pu-bruciarsi-40-2587080.html






























