A recente inclusão da culinária italiana na lista de património cultural intangível da Unesco reafirma o que muitos já sabem: comer na Itália é antes de tudo uma prática colectiva, enraizada em trocas intergeracionais de receitas, histórias e saberes. Entre as inúmeras iguarias locais, selecionamos seis especialidades regionais — do Alpes à Sicília — e indicamos onde experimentar as versões mais autênticas.
1. Pandoro e a versão antiga offella — Verona
Embora o pandoro seja hoje presença habitual nas mesas natalinas britânicas e internacionais, em Verona a tradição prefere o ancestral offella. Produzido com massa mãe de longa maturação, o offella tem miolo mais denso e costuma ser coberto por amêndoas — ao contrário do pandoro moderno, geralmente assado em formas estreladas e polvilhado com açúcar para lembrar os picos alpinos. Para provar uma versão autêntica, procure a Antica Offelleria Verona, que utiliza uma massa mãe centenária.
2. Lentilhas de Castelluccio — Planalto de Castelluccio e Norcia (Úmbria)
Na passagem de ano, as lentilhas são símbolo de prosperidade — pela semelhança com moedas. As mais célebres vêm do planalto de Castelluccio, no sul da Úmbria: grão pequeno, tenro e de cozedura rápida. A região, muito afetada pelo sismo de 2016, continua a acolher visitantes com hospitalidade. Uma sugestão local é jantar lentilhas com enchidos numa das casas da cidade próxima: o restaurante Granaro del Monte, a curta distância da basílica de Norcia (recentemente reaberta), é apontado por muitos como referência.
3. Burrata — Andria, Puglia
O que hoje se serve em saladas e tábuas finas nasceu de necessidade. No início do século XX, na região de Andria, os irmãos Bianchino procuraram aproveitar o leite que não chegava a mercado durante uma nevasca: misturaram natas com restos de mozzarella e embalaram a mistura em bolsos da mesma massa de que é feita a mozzarella. Assim nasceu a burrata, com interior cremoso e textura delicada. Andria continua a ser referência para quem busca burrata e mozza de leite de vaca de alta qualidade.
4. Pizza napolitana — Nápoles
A pizza napolitana é talvez a expressão culinária italiana mais difundida mundialmente. Com massa de longa fermentação, borda inchada e ingredientes de topo (como tomate San Marzano e mozzarella de búfala), a pizza napolitana é tão valorizada que a sua arte foi reconhecida pela UNESCO alguns anos antes da recente inscrição da cozinha italiana em geral. Para a experiência clássica, vá a Nápoles e prove uma pizza em fornos históricos, onde a técnica e a simplicidade dos ingredientes fazem toda a diferença.
5. Cannoli — Sicília
Doce emblemático da Sicília, o cannolo apresenta uma casquinha crocante recheada de ricota adoçada e frequentemente aromatizada com raspas de cítricos, pistache ou gotas de chocolate. Em Palermo e em cidades do interior siciliano encontrará confeitarias familiares que guardam receitas tradicionais e segredos de textura e sabor.
6. Trufa branca de Alba — Piemonte
A trufa branca de Alba é um dos tesouros gastronómicos do Piemonte: aroma penetrante e preço elevado definem este fungo subterrâneo que transforma pratos simples em experiências memoráveis. A cidade de Alba organiza a famosa Fiera Internazionale del Tartufo Bianco, ponto de encontro entre caçadores, chefs e gourmets durante o outono.
Em todo o país, a gastronomia é motivo de orgulho local — e saber provar uma especialidade no seu território de origem frequentemente faz toda a diferença. Das padarias históricas de Verona às mesas rústicas da Úmbria, dos mercados de Puglia às feiras do Piemonte, cada prato guarda uma história e uma comunidade que o sustenta.
Fonte: The Guardian





























