Antártida volta a ser palco de uma missão científica crucial: o projeto internacional SWAIS2C (Sensitivity of the West Antarctic Ice Sheet to Climate Change) iniciou a logística para perfurar camadas de gelo que preservam registros climáticos dos últimos 125 mil anos. A iniciativa, coordenada por Binghamton University e Imperial College London, conta com a colaboração de equipes italianas e do INGV (Istituto Nazionale di Geofisica e Vulcanologia).
O objetivo é recuperar testemunhos de gelo no ponto chamado Crary Ice Rise, na porção ocidental do continente, região que inclui a sensível Península Antártica. Segundo Fabio Florindo, presidente do INGV, em entrevista ao programa ‘ANSA incontra’, “neste momento está em curso o transporte do sistema de perfuração. O projeto pretende extrair um intervalo de amostras de gelo que cubra os últimos 125 mil anos”.
A escolha de Crary Ice Rise não é casual: trata-se de uma área dinâmica e vulnerável às mudanças climáticas atuais, cujo comportamento passado pode oferecer pistas diretas sobre como o gelo antártico reage ao aquecimento em curso. As perfurações permitirão analisar bolhas de ar aprisionadas, assinaturas isotópicas e outros marcadores que documentam temperatura, composição atmosférica e eventos climáticos do passado.
Os núcleos de gelo são verdadeiras bibliotecas naturais do clima. Ao examinar camadas que se formaram em diferentes épocas — incluindo períodos quando a Terra esteve naturalmente mais quente — pesquisadores esperam entender melhor as taxas de resposta das camadas de gelo e os mecanismos que podem acelerar a perda de massa glacial.
Além do interesse científico intrínseco, os dados coletados pelo SWAIS2C têm implicações diretas para previsões futuras de elevação do nível do mar e para modelos climáticos globais. A região ocidental da Antártida abriga grandes reservatórios de gelo que, se instabilizados, poderiam contribuir substancialmente para o aumento do nível dos oceanos.
Florindo ressaltou também a importância da colaboração internacional: “A participação italiana neste esforço reforça a troca de conhecimento entre institutos e universidades e amplia a capacidade técnica para operações logísticas complexas em ambientes extremos”. A campanha de perfuração envolve equipamento especializado, equipes de campo treinadas e uma janela curta de trabalho nos meses em que as condições climáticas permitem segurança e eficiência.
Espera-se que as primeiras amostras cheguem aos laboratórios nos meses subsequentes à perfuração, onde serão submetidas a uma bateria de análises químicas e físicas. Os resultados serão fundamentais para identificar episódios passados de derretimento, reconstruir trajetórias de temperatura e avaliar similaridades com o clima contemporâneo.
O projeto representa um passo significativo para avanços na paleoclimatologia e para a formulação de estratégias de adaptação às mudanças climáticas que já afetam regiões costeiras e populações no mundo todo.
Fonte: ANSA – leia a matéria original





























