Um sinal captado no último verão pelos detectores de ondas gravitacionais LIGO (EUA) e Virgo (Itália) pode representar o primeiro indício observacional de uma superkilonova, isto é, uma sequência rara de duas explosões estelares: uma supernova seguida por uma kilonova. A hipótese é apresentada em um estudo publicado em The Astrophysical Journal Letters por uma equipe internacional liderada pelo California Institute of Technology (Caltech).
Segundo o trabalho, o evento detectado em 18 de agosto produziu um sinal gravitacional que mobilizou rapidamente a comunidade astronômica global. Em poucas horas as varreduras do céu foram intensificadas e a Zwicky Transient Facility, no Observatório de Palomar (Califórnia), identificou um objeto de cor avermelhada em rápido desaparecimento a cerca de 1,3 bilhão de anos-luz de distância.
As supernovas ocorrem quando estrelas massivas em rotação rápida colapsam e explodem, frequentemente deixando como resíduo uma estrela de nêutrons. Já as kilonovas são produtos da fusão de duas dessas estrelas de nêutrons, fenômenos que também geram fortes ondas gravitacionais e emissão intensa de matéria rica em elementos pesados (processo r).
O cenário proposto pelos autores é o seguinte: uma supernova teria gerado um sistema binário de duas estrelas de nêutrons, que, após um intervalo de tempo relativamente curto em termos astronômicos, teriam se fundido, desencadeando a kilonova. Essa sequência produziria sinais tanto eletromagnéticos — como o brilho observado pela Zwicky Transient Facility — quanto um traço característico nas ondas gravitacionais detectadas por LIGO e Virgo.
Se confirmado, o achado representaria a primeira identificação de uma superkilonova, unindo em um único evento duas das explosões mais energéticas do Universo. A descoberta teria implicações relevantes para a compreensão da formação de elementos pesados, da evolução de sistemas binários compactos e da física das explosões estelares.
Os autores, contudo, alertam para a necessidade de cautela: a interpretação ainda depende de estudos adicionais e da coleta de evidências complementares, em especial observações espectroscópicas e de longo prazo que possam confirmar a natureza dupla do fenômeno. Modelos teóricos alternativos e incertezas na identificação do contraparte eletromagnética exigem análises mais detalhadas antes de uma confirmação definitiva.
O sinal captado por LIGO e Virgo reforça, mais uma vez, o papel decisivo da astronomia multimensageira — que combina luz, ondas gravitacionais e outros sinais — na investigação de eventos extremos no cosmos. Novas campanhas de observação e a continuidade das operações dos detectores de ondas gravitacionais são essenciais para detectar mais casos semelhantes e entender se a superkilonova é um fenômeno raro ou uma etapa comum na vida de algumas estrelas massivas.
Fontes e instrumentação citadas no estudo: LIGO, Virgo, Zwicky Transient Facility (Palomar) e a equipe do Caltech, com resultados publicados em The Astrophysical Journal Letters.






























