O caso Garlasco voltou ao banco dos réus em Pavia com a realização da audiência do incidente probatório, que teve uma presença inesperada: Alberto Stasi compareceu ao tribunal. Stasi, condenado de forma definitiva a 16 anos de prisão como único autor do homicídio de sua então namorada, Chiara Poggi, recebeu autorização do Tribunal de Vigilância para acompanhar a sessão, segundo seu advogado Antonio De Rensis, mas sem falar em juízo.
O foco da audiência, conduzida pela juíza para as investigações preliminares Daniela Garlaschelli, é o confronto técnico entre os peritos e os consultores das partes sobre dois eixos principais: as **impressões digitais** encontradas na residência da vítima e as análises do **material genético** preservado, em especial o DNA localizado sob as unhas de Chiara.
Do lado das análises datiloscópicas, os peritos Domenico Marchegiani e Giovanni Di Censo concluíram que não há indícios de que Andrea Sempio tenha deixado suas impressões na casa de via Pascoli, em Garlasco. Das cerca de sessenta impressões coletadas na residência, nenhuma corresponde ao indiciado. Na amostra de detritos conservados desde 13 de agosto de 2007, a única marca estranha à vítima foi o DNA de Alberto Stasi encontrado na canudinho de uma bebida “Estathé”, achado no lixo da casa.
Contudo, é no campo do **DNA** que a disputa técnica promete ser decisiva. A perícia assinada por Albani, disponibilizada às partes em 3 de dezembro, apontou resultados que permitem leituras divergentes. Para a Procuradoria de Pavia e para a defesa de Stasi — representada pelos advogados Giada Bocellari e Antonio De Rensis — a compatibilidade entre o material genético recolhido sob as unhas de Chiara e o perfil atribuível a Andrea Sempio pode ser interpretada como elemento que o vincula à cena do crime.
Já os peritos nomeados pela defesa de Sempio ressaltam as limitações expressas pela própria Albani: trata-se de uma amostra que não é datável e que não pode ser atribuída com segurança a uma deposição direta em cima ou embaixo das unhas no momento do crime. Pode tratar-se, segundo essa leitura, de uma transferência secundária — isto é, um material genético “mediado” por objetos tocados em momentos distintos.
Na estratégia de defesa, os advogados Angela Taccia e Liborio Cataliotti listaram vários objetos presentes na casa que, por terem sido manuseados por Sempio em razão de sua amizade com o irmão da vítima, Marco, poderiam explicar a presença de material genético sem vínculo direto com o ato criminoso: teclado do computador, controle remoto da televisão, toalha do banheiro e utensílios de cozinha, entre outros.
O embate pericial nesta audiência do incidente probatório representa um momento crucial para a investigação que passou a ter Sempio como indagado por homicídio em concurso (com Stasi ou com autores desconhecidos) do crime ocorrido em 13 de agosto de 2007. A decisão sobre a interpretação das provas técnicas — especialmente do DNA — pode influenciar os próximos passos da investigação e eventuais desenvolvimentos processuais.
Ao fim da sessão, permanece a expectativa sobre eventuais conclusões mais definitivas a partir do confronto entre os peritos e dos esclarecimentos solicitados pela juíza Daniela Garlaschelli. A complexidade técnica das análises e a pluralidade de interpretações demonstram por que o caso, quase duas décadas depois, segue aberta e objeto de intenso escrutínio judicial e midiático.
Fonte: Rai News – Caso Garlasco
























