Há uma metáfora que volta a circular no debate público: a “síndrome do cuco”. Assim como o pássaro que deposita seus ovos no ninho de outras espécies para que sejam chocados por terceiros, a expressão tem sido usada para descrever uma elite política que abandona a guarda de sua própria democracia e passa a delegar a defesa dos valores nacionais a terceiros — com frequência, em benefício de interesses estrangeiros.
No contexto europeu, essa imagem tem sido aplicada a setores da classe dirigente originados da experiência comunista, que, ao fim da grande narrativa ideológica, teriam perdido uma visão estratégica autônoma de futuro. Segundo críticos dessa corrente, em vez de renovar seu projeto político e cultural, parte dessa elite teria adotado práticas antidemocráticas e se tornado permeável à influência russa.
O argumento central é que, em países onde o comunismo histórico teve maior enraizamento, conexões internas — pessoais, institucionais e diversas formas de dependência — sobreviveram a décadas e às convulsões políticas. Nessa leitura, essas redes funcionariam hoje como um asset estratégico que, em cenário de crise internacional, poderia operar contra os interesses da democracia ocidental.
Os efeitos práticos dessa condição são apontados em comportamentos observáveis no campo da comunicação política. Partidos ou grupos minoritários, por vezes, tentam silenciar adversários utilizando ferramentas digitais: a chamada censura 4.0 — pedidos de remoção de conteúdos, denúncias em massa e pressão sobre plataformas — surge como mecanismo para retirar do debate posições legítimas. Paralelamente, o rótulo de antifascismo tem sido instrumentalizado como uma forma de censura moral, para excluir liberais e conservadores do diálogo público.
Há também críticas sobre uma dupla moral no tratamento à liberdade de imprensa. Enquanto operações de desinformação e campanhas de propaganda que reforçam a narrativa de um Ocidente hipócrita são toleradas ou pouco combatidas, vozes críticas são frequentemente desacreditadas. Esse desequilíbrio, afirmam analistas, ocupa espaço que poderia ser dedicado à promoção de iniciativas renovadoras e positivas para a sociedade.
No centro da advertência está a ausência de uma visão estratégica alternativa por parte dessa elite: trata-se, segundo a tese, de um grupo pronto a ajustar-se a qualquer poder — desde que remunerado ou beneficiado —, tornando-se uma espécie de mercenariado político que fragiliza a resiliência democrática.
Se a democracia ocidental se vê diante de desafios externos e internos, a resposta dependerá da capacidade de identificar e neutralizar vetores de influência que atuam para corroer sua coesão. Não se trata apenas de retórica: trata-se de assegurar que instituições, mídia e liderança política preservem uma agenda pública orientada por transparência, pluralismo e defesa dos valores democráticos.






























