A operação conjunta da Digos e da Guardia di Finanza culminou na detenção de nove pessoas, entre as quais se destaca Mohammad Hannoun, apontado como o núcleo dirigente da rede italiana de arrecadação de recursos destinada ao Hamas. Segundo a juíza de instrução Silvia Carpanini, Hannoun se preparava para se mudar para a Turquia e transferir para lá as atividades de financiamento da organização terrorista.
Mohammad Mahmoud Ahmad Hannoun, 63 anos, arquiteto de origem palestina radicado em Gênova, é o nome mais conhecido entre os nove presos. A investigação formaliza a suspeita de que Hannoun era “o vertice da célula italiana” do Hamas, responsável por destinar aproximadamente 71% dos valores arrecadados para apoiar milícias e famílias na Faixa de Gaza por meio de diversas entidades e canais.
Hannoun presidia a Associação dos Palestinos na Itália (Api) e, conforme o inquérito, coordenava uma rede transnacional de apoio com contatos relatados na Holanda, Áustria, França e Reino Unido. Entre suas funções em instâncias europeias, figurava como membro do conselho da Conferência da União das Comunidades e Instituições Palestinas na Europa, fórum que se reúne anualmente para fomentar arrecadações em prol da causa palestina.
Além disso, Hannoun chefiou a organização ‘Associação de Solidariedade com o Povo Palestino’ (Odv), com sedes em Gênova, Milão e Roma — uma onlus já sob escrutínio da magistratura por remessas financeiras a beneficiários não identificados na Palestina e a nomes presentes em listas de bloqueio europeias. Entre as entidades criadas ou promovidas por ele destacam-se também ‘La Cupola d’Oro’ e ‘La Palma’.
O investigado já havia sido alvo de sanções do Departamento do Tesouro dos EUA em duas ocasiões, por seu papel central no financiamento do Hamas na Europa. Em 2024, recebeu um ‘foglio di via’ de Milão por acusações relacionadas à incitação ao ódio.
Hannoun não é novidade para a justiça italiana: em 2010 foi investigado por supostos repasses a favor do Hamas, investigação que posteriormente foi arquivada pelo Tribunal de Gênova. Seu histórico público também inclui aproximações com o campo político; figuras como Alessandro Di Battista já atuaram como rostos de campanhas ou eventos vinculados a algumas das iniciativas em que Hannoun figurou. Reportagens anteriores o apontaram como referência para campanhas de solidariedade e para as chamadas flotilhas anti-israelenses desde os anos 2010.
Fontes do processo citam declarações recentes de Hannoun numa manifestação em Milão, nas quais ele teria relativizado atos de violência, defendendo que “todas as revoluções do mundo têm suas leis” e afirmando que “colaboracionistas devem ser eliminados” — posicionamentos que acentuaram a atenção das autoridades sobre suas atividades.
As medidas cautelares que culminaram na prisão dos investigados foram decretadas pela juíza Carpanini, que acolheu os elementos reunidos pela Digos e pela Guardia di Finanza. A investigação segue em curso para mapear a extensão da rede, as rotas financeiras e os possíveis desdobramentos internacionais do esquema.































