Um consórcio de doadores privados comprometeu €860 milhões (cerca de US$1 bilhão) para apoiar a etapa de desenvolvimento do potencial futuro acelerador de partículas do CERN, o Future Circular Collider (FCC). O anúncio, divulgado nesta quarta-feira, marca a primeira contribuição privada de grande porte direccionada a um projeto científico estratégico do laboratório de Genebra.
Entre os patrocinadores estão nomes de destaque do mundo dos negócios e da tecnologia: o empresário italiano John Elkann, o fundador da Iliad Xavier Niel, a Breakthrough Prize Foundation associada a figuras como Mark Zuckerberg, além do Eric and Wendy Schmidt Fund for Strategic Innovation, ligado ao ex-CEO do Google, Eric Schmidt.

O montante anunciado — que não substitui o financiamento institucional — destina-se a viabilizar estudos detalhados, trabalhos de projeto e atividades preparatórias essenciais para avaliar a viabilidade técnica e científica do FCC. O projeto global tem um custo estimado em cerca de €16 mil milhões e precisa ainda ser formalmente aprovado pelos Estados-membros do CERN antes de avançar para a construção.
Fabiola Gianotti, diretora-geral do CERN, comentou a iniciativa: “É a primeira vez na história que doadores privados desejam colaborar com o CERN para construir um instrumento de investigação extraordinário que permitirá à humanidade avançar na compreensão da física fundamental e do Universo. Sou profundamente grata pela sua generosidade, visão e compromisso com o conhecimento e a exploração.”
Segundo a direção do laboratório, a contribuição privada será determinante para acelerar fases de concepção e permitir a realização de estudos complementares sem precedentes, que poderão influenciar a decisão política final dos Estados-membros sobre o investimento total. Representantes do CERN enfatizam que o apoio privado não substitui o processo institucional de financiamento, mas amplia o escopo e a rapidez das pesquisas preparatórias.
O Future Circular Collider é pensado como um successor do Large Hadron Collider (LHC) e está projetado para ter um diâmetro muito maior, energia significativamente superior e capacidade de explorar novas faixas de massa e interação entre partículas. Seus defensores argumentam que o FCC poderia responder a questões cruciais sobre matéria escura, campos fundamentais e outras incógnitas da física moderna.

Críticos apontam para o elevado custo e para as prioridades concorrentes em pesquisa e infraestrutura pública, lembrando que a aprovação final depende de um longo consenso entre países europeus e parceiros internacionais. A entrada de capital privado, no entanto, abre um novo capítulo na forma como grandes projetos científicos podem ser viabilizados, criando modelos híbridos de financiamento público-privado.
O anúncio chega em um momento de intenso debate sobre o futuro da física de altas energias e sobre como garantir que os grandes laboratórios mantenham a capacidade de realizar pesquisas de ponta. Para o CERN, a doação representa tanto um voto de confiança externo quanto um instrumento prático para avançar análises essenciais ao projeto.


























