O Natal nem sempre se resume aos mesmos ritos familiares ou aos filmes que reaparecem todo dezembro. Há obras que usam a época festiva como pano de fundo emocional ou simbólico, oferecendo leituras menos previsíveis e por vezes esquecidas. A seguir, destacamos três longas que merecem ser redescobertos por explorarem o Natal de maneira singular: 2046, Klaus e Sballati per le feste! (The Night Before).

2046 — Natal como espaço da memória
Dirigido por Wong Kar-wai, 2046 não é um convencional filme natalino: suas sequências ambientadas em diferentes vigílias de Natal servem mais como dispositivo para uma reflexão sobre saudade, perda e o retorno obsessivo ao passado. Parte de uma trilogia que inclui Days of Being Wild e In the Mood for Love, o filme funciona também como uma síntese melancólica dos temas caros ao diretor.
Tony Leung interpreta Chow Mo-wan, um homem marcado por um amor nunca superado. As relações que ele estabelece são efêmeras e não resolvem o seu luto; ao contrário, o empurram para dentro da escrita de um romance cujos personagens tentam, sem sucesso, abandonar o passado. A icônica sala 2046 transforma-se, na narrativa, num ponto liminar onde passado, presente e futuro se misturam — e a Vigília de Natal torna-se um momento em que a nostalgia se intensifica e o desejo de retorno se choca com a impossibilidade real de reparar o que foi perdido.

Klaus — reinvenção animada do mito natalino
No terreno da animação, Klaus é uma das propostas natalinas mais comoventes e subestimadas dos últimos anos. Primeiro longa-metragem animado original da Netflix indicado ao Oscar de Melhor Animação, o filme frequentemente foi ofuscado apesar de sua ambição criativa e narrativa. Klaus reconta, de modo inesperado, as origens de Papai Noel, transformando o mito em uma fábula sobre isolamento, reconciliação e mudança social.
O protagonista é apresentado como um artesão solitário marcado pelo luto, e ao seu redor a história constrói uma comunidade que redescobre a generosidade e o espírito solidário. A dublagem reúne nomes como J.K. Simmons, Jason Schwartzman, Joan Cusack e o saudoso Norm Macdonald. Visualmente, Klaus surpreende ao recuperar texturas que remetem ao desenho manual, conferindo ao filme uma profundidade estética rara na produção contemporânea de animação.
Sballati per le feste! (The Night Before) — comédia irreverente de fim de ano
Se o seu interesse é por uma abordagem mais cômica e barulhenta do período festivo, Sballati per le feste! (conhecido internacionalmente como The Night Before) transforma o Natal em pretexto para uma comédia que trata, com excesso e inteligência, das angústias da passagem para a vida adulta. Estrelado por Seth Rogen, Joseph Gordon-Levitt e Anthony Mackie, o filme acompanha três amigos que encaram a tradição de uma última noite festiva juntos como um rito de passagem — e a narrativa explora, entre piadas e situações extremadas, temas como amizade, responsabilidade e mudança de prioridades.
Ao contrário dos filmes natalinos clássicos, aqui o riso vem acompanhado de uma reflexão sobre o fim de ciclos e as transformações pessoais que acompanham o crescimento. O tom irreverente não anula a ternura; ao contrário, a mistura de humor e afeto ajuda a compor um retrato honesto do processo de amadurecimento.
Essas três obras mostram como o Natal pode ser aproveitado de maneiras muito diversas: como cenário da memória e da perda, como reinterpretação renovadora de mitos, ou como catalisador de uma comédia sobre crescer. Redescobrir filmes assim enriquece a temporada e amplia o repertório além dos mesmos clássicos de sempre.
Fonte: Everyeye (notícia original)






























