Em um panorama político que lembra o ciclo dos midterms americanos, a Itália vê nas pesquisas de opinião uma espécie de avaliação de meio de legislatura. Sem um sistema de eleições intercalares como o dos EUA, toda consulta popular que ocorre aproximadamente na metade do mandato acaba por ser interpretada como um termômetro para o governo e para as forças de oposição.
O referendo sobre a reforma da justiça ou, como preferem alguns, sobre a magistratura e seus órgãos de representação tem sido apresentado por parte do campo governista como mais um evento com caráter de verificação política. No entanto, trata-se de um tema que atravessa linhas partidárias: entre as oposições, por exemplo, o não anunciado pela secretária Elly Schlein ao referendo não encontra consenso absoluto nem entre os membros do próprio Partito Democratico (PD), enquanto a maior parte do centro-direita se apresenta bastante alinhada em favor do sim.
Os dados do levantamento conduzido pela Ipsos para o Corriere della Sera confirmam movimentos relevantes no mapa eleitoral. O partido da primeira-ministra, Fratelli d’Italia, aparece em 28,4% das intenções de voto, acima dos 26% obtidos nas eleições nacionais de três anos atrás. Esse crescimento consolida a posição de liderança da coalizão governista.
No campo oposto, o PD também regista uma subida: de 19,1% quando Enrico Letta ocupava a liderança do partido, para 21,3% sob a direção de Elly Schlein. Trata-se de um ganho modesto, especialmente se comparado ao 24,1% alcançado pelo PD nas eleições europeias do ano anterior, que havia alimentado expectativas de recuperação mais expressiva.
Dentro da coalizão de direita, a disputa entre Lega e Forza Italia sofreu alterações simbólicas. Três anos atrás a Lega liderava por 0,7 ponto em relação ao partido de Silvio Berlusconi; hoje a vantagem é da Forza Italia, ainda que por uma margem muito pequena, com a Lega marcando cerca de 8,1%. O desempenho sinaliza um ressurgimento discreto para figuras como Antonio Tajani, que ambicionam ampliar o espaço do partido.
No amplo cenário das oposições, a competição entre PD e o Movimento 5 Stelle (M5S) continua sendo um elemento definidor. Enquanto o PD sobe ligeiramente, o M5S liderado por Giuseppe Conte registra uma queda significativa: de 15,4% para 13,5% das intenções de voto. Mesmo recuperando parte do terreno perdido depois do revés nas europeias quando havia caído para 10%, o movimento permanece substancialmente atrás do PD.
Esses números, além de oferecerem um retrato atualizado do equilíbrio de forças, alimentam leituras sobre estratégias eleitorais e de comunicação para os próximos meses. Para o governo e a maioria, o crescimento de Fratelli d’Italia confirma a centralidade da liderança de Giorgia Meloni na coalizão; para as oposições, as flutuações do PD e do M5S ressaltam uma reorganização em curso que pode definir a configuração do bloco alternativo nas próximas disputas.
Em resumo, a sondagem da Ipsos desenha um quadro de avanços e recuos: a premiê ganha terreno, o PD recupera parte do espaço perdido, a Lega perde ligeira posição para o Forza Italia, e o M5S segue em fase de consolidação abaixo do PD. O referendo e outros eventos eleitorais que se aproximam devem agora ser observados à luz dessa fotografia do eleitorado.
Fonte: Start Magazine – Sondaggi, chi sale e chi scende fra Meloni, Schlein e non solo































