A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, reforçou nesta semana uma mensagem de autonomia estratégica europeia que dialoga diretamente com o novo cenário internacional: a necessidade de a Europa assumir maior responsabilidade na própria defesa. A declaração foi dada ao programa Tg La7, que também divulgou trechos do documento norte-americano National Security Strategy, apontando novas diretrizes de segurança e posicionamento global dos EUA.
Europa em busca de autonomia: “Um processo inevitável”
Ao comentar o conteúdo do documento americano, Meloni destacou que o redesenho das relações entre Estados Unidos e União Europeia não é uma ruptura, mas um movimento de ajustes estratégicos que já estava em curso.
“Não digo que tenha havido uma deterioração na relação EUA-UE. Isso está escrito em um documento estratégico e acompanha posicionamentos europeus cada vez mais assertivos.”
Segundo Meloni, a União Europeia precisa aceitar que o momento exige mais protagonismo. A queda da dependência europeia em questões militares e industriais em relação aos EUA, afirmou ela, não deve ser encarada como ameaça, mas como oportunidade de fortalecimento interno.
“É um processo inevitável, mas é uma oportunidade para nós. Obviamente é uma questão econômica, mas cria liberdade política.”
A fala da primeira-ministra ecoa debates recentes sobre defesa comum, indústria bélica europeia e maior coordenação entre os Estados-membros em temas estratégicos. Para Meloni, se a Europa deseja “ser grande”, precisa demonstrar capacidade de responder sozinha aos desafios crescentes do rearmamento global às tensões no Leste Europeu.
Permanência no cargo e o clima político interno
Meloni também abordou diretamente as especulações sobre seu futuro político diante do referendo constitucional que se aproxima. De forma taxativa, afirmou:
“Não se preocupem, Meloni permanecerá no cargo até o final da legislatura, independentemente do resultado do referendo.”
A declaração busca conter ruídos internos e garantir estabilidade a seu governo, num momento em que debates sobre reformas institucionais e autonomia da presidência do Conselho voltam a dividir a cena política italiana.
EUA, Europa e um novo equilíbrio global
O documento de segurança nacional dos Estados Unidos divulgado pelo Tg La7 e comentado pela premiê sugere que Washington vê a necessidade de priorizar recursos em outras regiões estratégicas, especialmente no Indo-Pacífico. Isso, para Meloni, reforça a urgência de uma Europa mais preparada.
Sem afirmar quebra de alianças, ela descreve o cenário como uma transição estrutural, na qual cada ator global revisa seu papel e seus limites.
A mensagem central: a Europa não pode depender indefinidamente da proteção americana.
Ao unir política externa e cenário interno, Meloni delineia o que considera ser a nova fronteira estratégica da Itália e da União Europeia: maturidade, capacidade de defesa e peso global.
Sua intervenção no Tg La7 revela a tentativa de marcar posição em dois níveis:
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No cenário internacional, defendendo uma Europa mais autônoma e menos dependente;
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Na política doméstica, reafirmando estabilidade e continuidade governamental.
Enquanto o debate sobre defesa europeia e sobre o lugar do continente no novo equilíbrio global avança, a mensagem de Meloni é clara:
A União Europeia só será “grande” se souber se proteger política, econômica e militarmente.






























