A cidadania italiana não é e nunca deveria ser um produto de prateleira. Ainda assim, em meio às campanhas de Black Friday, o que se vê são anúncios que transformam um direito histórico, baseado no sangue e na ancestralidade, em uma estratégia de marketing barata. “Descontos imperdíveis para obter seu passaporte europeu!”, dizem alguns. Como se o jus sanguinis, uma das formas mais antigas e respeitadas de transmissão da cidadania, pudesse ser vendido com um cupom promocional.
Trata-se de uma ofensa ao legado cultural e histórico da Itália. A cidadania italiana é um elo de pertencimento, o reconhecimento formal de uma história familiar que atravessou fronteiras, guerras e gerações. Reduzir esse vínculo a um “combo promocional” é transformar em mercadoria o que deveria ser símbolo de respeito à própria memória.
O repúdio público e o debate político
As reações não demoraram. Nas redes sociais, cidadãos e políticos italianos se manifestaram com indignação diante da banalização do direito de sangue. O grupo Forza Italia Toscana publicou uma nota contundente:
“A cidadania italiana deve ser dada apenas a quem realmente a merece: quem ama nosso País, conhece nossa história e sente o Tricolor no coração.”
O Secretário Nacional Antonio Tajani também condenou a prática, destacando a necessidade de reformas na lei de cidadania, com maior rigor nos controles e combate ao mercado paralelo de genealogias falsas. O que antes era um processo administrativo sério, hoje se vê ameaçado por intermediários oportunistas que lucram com a desinformação e com a pressa de quem busca um passaporte europeu.
A comercialização da cidadania
Ao associar o reconhecimento da cidadania italiana a campanhas de desconto, essas empresas escancaram um problema grave: a mercantilização do jus sanguinis.
O direito à cidadania italiana que deveria ser guiado por valores de pertencimento, história e legitimidade documental tornou-se um serviço de marketing, oferecido entre um “desconto relâmpago” e outro.
Enquanto isso, o país enfrenta desafios sérios na gestão de seus recursos públicos e diplomáticos. A proliferação de ofertas enganosas coloca em risco não apenas o prestígio do passaporte italiano, mas também a credibilidade das instituições que o emitem.
Em um mercado onde qualquer um se declara “especialista em cidadania”, há escritórios cobrando preços absurdos por serviços de pesquisa genealógica e processos duvidosos, muitas vezes conduzidos por quem sequer compreende o que é o direito de sangue italiano.
O mais alarmante é que muitos desses “pacotes promocionais” são direcionados a descendentes que nunca pisaram na Itália, não conhecem o idioma e não demonstram nenhum vínculo real com o país.
O sistema, fragilizado por décadas de falta de controle e por brechas na lei, tornou-se terreno fértil para abusos, falsificações e fraudes.
E agora, o que deveria ser um ato de reconhecimento jurídico e histórico virou um banner com 30% de desconto.
Um alerta necessário
O direito à cidadania italiana é sagrado. É o resultado de uma trajetória familiar e de um reconhecimento histórico que não pode ser colocado em liquidação.
Empresas e escritórios que exploram o nome da Itália em campanhas de Black Friday cometem uma afronta não só à lei, mas à própria identidade italiana.
Portanto, pelo amor de Deus, se você vir qualquer empresa ou intermediário oferecendo “descontos” para processos de cidadania italiana, denuncie.
A cidadania não é uma promoção é um direito, uma responsabilidade e uma herança que exige respeito.
































