A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, reagiu com dureza ao saber que foi formalmente excluída da investigação judicial relacionada ao chamado caso Almasri, enquanto três membros centrais de seu governo, os ministros Carlo Nordio (Justiça), Matteo Piantedosi (Interior) e o subsecretário Alfredo Mantovano, seguem implicados no processo.
Em entrevista ao jornal La Stampa, Meloni não escondeu o descontentamento com o que considera uma tentativa de desassociá-la das decisões do próprio governo. Em tom direto, afirmou:
“Sou a chefe do governo. Não Alice no País das Maravilhas. Não esperava que dissessem que meus ministros governam sem o meu conhecimento.”
Investigação causa mal-estar no Palazzo Chigi
O caso Almasri, que envolve decisões políticas sensíveis sobre imigração, acirrou novamente os ânimos entre o Executivo e o Judiciário. A notificação de arquivamento enviada à primeira-ministra foi recebida no último fim de semana, mas teria sido formalmente apresentada a ela somente nesta segunda-feira (4), segundo fontes do governo. A documentação foi entregue pela senadora e advogada Giulia Bongiorno, momentos antes de Meloni embarcar para Ancona em um helicóptero ao lado do ministro Antonio Tajani.
Embora Meloni tenha mantido silêncio público até que as verificações legais fossem concluídas, seus assessores confirmam que a primeira-ministra ficou visivelmente irritada desde o primeiro momento. “Giorgia não é Giuseppe Conte”, disse um aliado próximo, fazendo alusão ao distanciamento político ocorrido entre o ex-premiê Conte e o então ministro do Interior Matteo Salvini durante o caso Open Arms, quando apenas Salvini foi processado.
Meloni defende unidade de comando
A líder do governo afirmou que todas as decisões importantes são tomadas em conjunto e sob sua liderança direta, rejeitando qualquer ideia de autonomia decisória por parte dos ministros implicados.
“Este governo atua de forma coesa sob a minha liderança. É absurdo sugerir que Piantedosi, Nordio e Mantovano devam ser julgados por decisões que tomamos coletivamente.”
No entorno de Meloni, o sentimento é de que o envolvimento dos três membros do governo, sem sua inclusão formal, sugere uma intenção política por parte da magistratura. A exclusão da chefe do Executivo é vista como um movimento estratégico que fragiliza institucionalmente o governo ao atingir sua base, sem confrontar diretamente sua liderança.
Clima político se acirra
A reação de Meloni fortalece a narrativa adotada por seu governo desde o início do mandato: a de que existe uma “judicialização da política” voltada contra o Executivo, em especial no que se refere à agenda migratória e à segurança nacional, dois pilares da coalizão de direita.
A decisão de responder publicamente e com veemência tem o objetivo claro de reafirmar autoridade e deixar evidente que nenhuma decisão é tomada sem o aval da primeira-ministra. Mais do que indignação, a fala de Meloni revela uma estratégia política para blindar sua imagem e fortalecer sua posição diante de possíveis novos desdobramentos judiciais.
“Que meus ministros tenham agido sem meu conhecimento é uma afirmação patentemente absurda.”
O episódio expõe as tensões entre o governo de Giorgia Meloni e setores do Judiciário, especialmente em temas sensíveis como imigração e poder decisório do Executivo. Com maioria no Parlamento e respaldo popular significativo, Meloni segue firme na defesa de sua liderança e prepara o terreno para enfrentar mais uma batalha política em meio ao conturbado cenário italiano.