Recentemente, o governo italiano decidiu bloquear a tentativa do banco UniCredit de comprar o Banco BPM, que é o terceiro maior banco do país. Essa decisão levantou um debate intenso sobre a “italianidade” do UniCredit e o controle estrangeiro no setor bancário da Itália.
O que é a compra do Banco BPM pelo UniCredit?
O UniCredit, já o maior banco da Itália em valor de mercado, manifestou interesse em adquirir o Banco BPM para se consolidar ainda mais no setor financeiro. O objetivo seria criar um gigante bancário, fortalecendo a posição da instituição no país e na Europa.
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UniCredit: valor de mercado de € 89 bilhões.
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Intesa Sanpaolo (segundo maior banco): € 86 bilhões.
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Banco BPM: terceiro maior, com valor de € 15 bilhões.
Por que o governo bloqueou a operação?
O governo usou o chamado “poder de ouro” uma ferramenta que permite interferir em grandes operações econômicas para proteger interesses estratégicos e a segurança nacional. A preocupação principal do governo é que essa fusão crie uma concentração excessiva no setor bancário italiano, o que poderia prejudicar a competição e a estabilidade financeira do país.
Quem é a BlackRock?
A BlackRock é uma das maiores gestoras de investimentos do mundo, com sede nos Estados Unidos. Fundada em 1988, a empresa administra trilhões de dólares em ativos para investidores institucionais e individuais, como fundos de pensão, governos, fundos soberanos e pessoas físicas.
Mas afinal, quem são os acionistas da BlackRock?
A BlackRock, apesar de seu nome quase mítico no mundo das finanças, é uma empresa de capital aberto listada em Wall Street. Isso significa que qualquer pessoa (física ou jurídica) pode se tornar acionista ao comprar suas ações. Mas, na prática, quem realmente detém o controle?
Curiosamente, os maiores acionistas da BlackRock são justamente outros grandes fundos de investimento – instituições que fazem o mesmo tipo de trabalho: administrar bilhões de dólares de terceiros. Isso cria uma espécie de círculo fechado no topo do sistema financeiro global, onde gigantes do mercado são, ao mesmo tempo, concorrentes e sócios uns dos outros.
Entre esses acionistas estão nomes como Vanguard, State Street e Fidelity. Larry Fink, CEO e fundador da BlackRock, possui apenas 0,2% da empresa. Pode parecer pouco, mas isso representa cerca de 340 mil ações, avaliadas hoje em torno de 340 milhões de dólares.
O desempenho da BlackRock impressiona: uma ação comprada há 20 anos teria se valorizado mais de 1.300%, o que equivale a um retorno médio de 15% ao ano. Isso significa que um investimento de 10 mil dólares na empresa em 2004 hoje valeria cerca de 142 mil dólares.
Mas de onde vem tanto dinheiro? A principal fonte de receita da BlackRock são as taxas de administração cobradas sobre os ativos que ela gerencia. Só em 2024, a expectativa é de 20 bilhões de dólares em receita, com quase 8 bilhões em lucro operacional. A maior fatia vem dos ETFs (fundos negociados em bolsa), onde a BlackRock lidera o mercado com cerca de US$ 3,5 trilhões sob gestão. Além disso, administra outros US$ 5 trilhões de clientes institucionais, como fundos de pensão e governos.
Com esse volume gigantesco de capital, cada decisão da BlackRock, de onde investir ou retirar recursos, pode impactar diretamente a economia de países inteiros. Isso explica o tamanho da influência que ela tem, inclusive fora dos Estados Unidos.
Na Itália, por exemplo, a BlackRock (e também a Blackstone, outra gestora americana com nome semelhante, frequentemente confundida com a primeira) é uma das principais investidoras da Bolsa de Valores de Milão. De acordo com o jornal MF-Milano Finanza, o megafundo tem participações em todas as 40 empresas do índice FTSE/MIB, com um valor estimado de 24,8 bilhões de euros.
No mercado financeiro, a BlackRock é conhecida por investir em empresas ao redor do globo, comprando participações acionárias significativas. No caso do UniCredit, a BlackRock detém cerca de 7,4% do capital, o que faz dela o maior acionista individual do banco.
Por ser uma gestora global, a BlackRock não controla diretamente as operações das empresas em que investe, mas sua influência vem do peso de sua participação acionária e do poder de voto que exerce em assembleias de acionistas. Por isso, sua presença é vista por alguns como um indicativo de “controle estrangeiro” em empresas nacionais, gerando debates como o atual sobre o UniCredit. Embora BlackRock não controle diretamente as operações do UniCredit, seu peso como acionista pode afetar decisões estratégicas, o que gera preocupação sobre a soberania financeira italiana. Essa presença massiva levanta preocupações sobre o controle estrangeiro sobre setores estratégicos e explica por que o governo italiano bloqueou a tentativa de fusão entre UniCredit e Banco BPM.
O que Matteo Salvini disse?
O líder político Matteo Salvini manifestou publicamente sua oposição ao negócio, alegando que o UniCredit não é mais um banco italiano. Ele baseia essa afirmação no fato de que o principal acionista do banco é a BlackRock, uma empresa de investimentos dos Estados Unidos, que detém 7,4% do capital do UniCredit. Segundo Salvini, isso torna o banco “estrangeiro” e motivo de preocupação para a soberania econômica da Itália.
E a Comissão Europeia, o que diz?
Em resposta ao bloqueio do governo italiano, a Comissão Europeia enviou uma carta oficial, criticando a decisão de usar o poder de ouro. A Comissão afirma que o UniCredit é, para todos os efeitos, um banco italiano, e que a compra do Banco BPM por ele não representa um risco significativo à segurança pública da Itália.
Além disso, a Comissão ressaltou que o governo italiano descumpriu procedimentos legais ao não notificar a decisão previamente, o que viola regras da União Europeia sobre fusões e aquisições.
Qual é o prazo para o governo responder?
O governo italiano tem até o dia 8 de agosto para responder oficialmente à Comissão Europeia. Até essa data, todas as negociações entre UniCredit e Banco BPM estão suspensas.
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Para Matteo Salvini, o UniCredit está dominado por capital estrangeiro e isso é preocupante para a economia italiana.
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Para a Comissão Europeia, o UniCredit é um banco italiano e a fusão com o Banco BPM não cria riscos sérios para a segurança nacional.
A verdade está no meio: o UniCredit é uma empresa italiana com muitos investidores estrangeiros, o que é comum no mercado financeiro globalizado. O debate mostra como é difícil definir a “italianidade” de grandes empresas hoje, especialmente em setores estratégicos como o bancário.
O bloqueio da compra do Banco BPM pelo UniCredit é um exemplo claro do equilíbrio delicado entre proteger a soberania econômica e respeitar as regras da União Europeia. O desfecho dessa situação pode influenciar futuras operações financeiras e o papel do governo no controle de setores estratégicos.
A decisão do governo italiano de bloquear a fusão entre UniCredit e Banco BPM reflete uma preocupação legítima com a soberania econômica do país, especialmente diante da crescente influência de acionistas estrangeiros como a BlackRock. Ela só gere uns trilhões de dólares, participa de quase todas as grandes empresas do planeta e, de vez em quando, aconselha governos sobre como gerir suas crises. Imaginar que isso pode ser um probleminha para a democracia ou para a soberania dos países? Bobagem, né?
Caro Paolo,
Agradecemos seu comentário. De fato, a presença de investidores globais como a BlackRock evidencia a complexa realidade financeira atual. No entanto, a preocupação do governo italiano reflete o desafio de equilibrar a abertura aos mercados internacionais com a defesa dos interesses nacionais, especialmente em setores estratégicos como o bancário.
A discussão sobre soberania econômica vai além da simples influência acionária; trata-se de preservar a estabilidade e a autonomia decisória do país.
Ainda bem que o governo colocou freio. Já basta metade da Europa ter a economia gerida por fundos que ninguém elegeu. A Itália já tem dificuldade em proteger seus próprios ativos estratégicos. Deixar o sistema bancário se concentrar nas mãos de quem atende mais aos acionistas do que à população seria o fim da linha.
Ciao, Marco,
Agradecemos por compartilhar sua visão sobre esse tema tão relevante. Realmente, o equilíbrio entre a atração de investimentos estrangeiros e a proteção dos interesses nacionais é um desafio constante, especialmente em setores estratégicos como o bancário. A decisão do governo italiano reflete essa preocupação legítima de manter a soberania econômica e garantir que as instituições financeiras atendam também às necessidades da população.
Seguimos acompanhando essa discussão com atenção e compromisso.
UniCredit pode até ter sede na Itália, mas com a BlackRock mandando no pedaço, quem garante que as decisões ainda serão italianas? Não é só mais uma transação de mercado. E no caso da BlackRock, os fios já envolvem metade do planeta. A BlackRock não compra bancos: ela acumula influência. E quando isso acontece em nome da ‘eficiência’, é melhor ligar o alerta.
Olá Giulia,
Entendemos sua preocupação com a influência da BlackRock no UniCredit e no sistema financeiro italiano. É fato que a presença de investidores estrangeiros em grandes empresas pode gerar dúvidas sobre a soberania das decisões. No entanto, como mostramos no artigo, a BlackRock não controla diretamente o banco, embora sua participação seja significativa. O debate sobre a “italianidade” do UniCredit reflete os desafios do mercado globalizado, onde proteger interesses estratégicos e respeitar as regras internacionais exigem equilíbrio.
Obrigado pelo seu comentário!
Equipe La via Italia
Banco italiano com cara de Wall Street? Não, obrigado! Eles falam que é só uma fusão, mas no fim quem paga é sempre a gente.
Entendemos sua preocupação, que reflete um sentimento comum diante de operações financeiras de grande porte envolvendo capital estrangeiro. De fato, o debate sobre a “italianidade” do UniCredit é complexo, pois o banco possui acionistas globais, mas atua fortemente na Itália. O governo busca proteger a estabilidade econômica e a soberania nacional, tentando equilibrar interesses locais e globais para que a população não seja prejudicada.
Obrigado por participar dessa discussão importante!
Um abraço,
Equipe La via Italia