Em meio à pressão crescente da OTAN e às expectativas da União Europeia, o governo italiano reafirmou seu compromisso de atingir, até 2025, a meta de destinar 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para gastos com defesa. A promessa, feita em diversas ocasiões pela primeira-ministra Giorgia Meloni, tem sido reiterada sem previsão de novas alocações de recursos, o que acende o alerta sobre como o país pretende, na prática, alcançar o objetivo.
Para contornar limitações fiscais e evitar confrontos com as regras orçamentárias da UE, Roma tem reformulado a maneira como calcula seus gastos militares. Estão sendo incluídos agora setores antes não considerados dentro do escopo tradicional de defesa, como a atuação da Guarda Costeira, da Guardia di Finanza (polícia econômica e alfandegária), além de investimentos em segurança cibernética. A manobra permite inflar os números oficiais sem, necessariamente, ampliar de forma proporcional os investimentos em armamentos ou nas Forças Armadas convencionais.
Durante a Conferência para a Reconstrução da Ucrânia, realizada nos dias 10 e 11 de julho em Roma, o comissário europeu de Economia, Valdis Dombrovskis, confirmou ter discutido com Meloni a possibilidade de um aumento efetivo dos gastos com defesa. A menção ao tema, em um evento focado na Ucrânia, reforça a ligação entre o esforço europeu de apoio militar a Kiev e a exigência por maior comprometimento dos países-membros da OTAN, especialmente aqueles do sul da Europa.
No entanto, a Itália ainda não definiu um cronograma detalhado para a escalada dos gastos, e a própria OTAN não estabeleceu metas intermediárias antes de 2035. Isso significa que, embora o discurso oficial aponte para o ano que vem, na prática, Roma possui um horizonte de até dez anos para atingir os parâmetros estabelecidos pela aliança militar.
Segundo cálculos do Observatório Milex de Gastos Militares, alcançar a meta de 2% exigirá um salto drástico nos valores: dos atuais 35 bilhões de euros anuais, o orçamento militar teria de ultrapassar a marca dos 100 bilhões de euros por ano até 2035. Isso representaria um aumento médio de 6 a 7 bilhões de euros por ano, valor que precisaria ser coberto por medidas orçamentárias consistentes, algo cada vez mais difícil em um cenário de estagnação econômica e alta dívida pública.
O dilema, portanto, permanece: como compatibilizar as exigências externas com as limitações internas? Embora o governo Meloni sustente a viabilidade da meta sem comprometer novos recursos, a ausência de um plano transparente e a contabilidade criativa levantam dúvidas sobre o real comprometimento de Roma com uma expansão estrutural de sua capacidade de defesa.
Enquanto isso, a pressão internacional continua. O aumento das tensões geopolíticas, especialmente com a guerra na Ucrânia e o fortalecimento da presença militar da OTAN no Leste Europeu, torna cada vez mais difícil para países como a Itália manterem posições ambíguas ou meramente simbólicas no cenário da defesa coletiva. O tempo e os números dirão se o compromisso de 2% será efetivo ou apenas mais uma promessa diluída no jogo político europeu.