A Liga Norte, partido integrante da coalizão governista italiana, se prepara para lançar um dos projetos econômicos mais ousados da legislatura: um pacote de incentivos fiscais voltado ao emprego jovem e à recuperação salarial. O anúncio foi feito pelo subsecretário de Economia, Federico Freni, em entrevista à agência Adnkronos, detalhando os principais pontos da proposta que deverá ser apresentada ao Parlamento ainda neste mês de maio.
O foco do plano é claro: atacar o problema estrutural da precariedade juvenil e frear o preocupante êxodo de talentos. “Nos últimos dez anos, mais de 350 mil jovens deixaram o país. Isso não pode continuar”, declarou Freni, ao defender o projeto que isenta empresas de encargos trabalhistas por três anos para cada jovem contratado com vínculo permanente — além de estabelecer uma taxa fixa de 5% de imposto para esses trabalhadores com rendas anuais de até 40 mil euros, válida por cinco anos.
Incentivos para uma geração à deriva
A iniciativa responde a uma realidade cada vez mais difícil de ignorar. A taxa de desemprego entre jovens italianos segue acima da média europeia, e a insegurança no mercado de trabalho tem levado milhares de recém-formados a buscar oportunidades no exterior.
A promessa da Liga é transformar o contrato permanente, hoje uma exceção, em um novo padrão para quem tem menos de 30 anos. A medida procura dar um “choque de confiança” no tecido empresarial, ao mesmo tempo em que devolve perspectiva a uma geração à deriva. A contrapartida fiscal para empresas busca compensar o custo inicial da contratação, frequentemente apontado como obstáculo.
Poder de compra e negociação coletiva
Além dos incentivos à contratação, o projeto também reforça o papel da negociação coletiva na elevação dos salários, especialmente em um cenário inflacionário persistente. A ideia é estimular que os contratos prevejam reajustes automáticos vinculados ao custo de vida — algo já adotado em setores como o metalúrgico.
Freni foi enfático ao afirmar que não se cogita o retorno da “escala móvel”, sistema abandonado nos anos 1990, mas defende que os aumentos salariais acompanhem o índice harmonizado de preços ao consumidor (IPCA europeu). “Queremos antecipar parte dos aumentos salariais antes da renovação contratual”, explicou.
Paz fiscal: sem anistia, com responsabilidade
Outro pilar do pacote é a chamada “paz fiscal”, uma proposta de parcelamento ampliado de dívidas tributárias. O texto prevê até 120 parcelas mensais com isenção de juros e multas — sem, no entanto, abrir espaço para anistias ou perdão de débitos.
A iniciativa é voltada principalmente para pequenos empreendedores, autônomos e famílias que ainda enfrentam os efeitos da inflação pós-pandemia. “Não é presente para sonegadores”, diz Freni. “É bom senso para quem quer pagar, mas não consegue”.
Segundo o subsecretário, a proposta oferece um ganho duplo: alívio para quem está endividado e arrecadação estável para os cofres públicos.
Análise: um impulso necessário, mas com cautela
As medidas anunciadas sinalizam uma tentativa concreta de reequilibrar o mercado de trabalho italiano, especialmente para os mais jovens, cuja participação vem despencando. A criação de estímulos fiscais ligados à formalização e à estabilidade é, sem dúvida, uma resposta alinhada aos desafios demográficos e sociais do país.
Entretanto, a eficácia do pacote dependerá de como será recebido pelo empresariado e de sua viabilidade fiscal. O próprio Freni admite que a cobertura orçamentária ainda será detalhada em relatório técnico a ser divulgado.
Sem ela, a credibilidade da proposta pode se fragilizar. Além disso, há o risco de segmentação: beneficiar apenas jovens até 30 anos pode gerar distorções ou descontentamento entre outros grupos igualmente vulneráveis.
Ainda assim, a proposta revela uma mudança de tom no debate econômico italiano: mais ação e menos retórica. Se aprovada e bem implementada, pode marcar um passo importante na reconstrução da confiança entre jovens, empresas e instituições.