“Somos italianos. Não por concessão, mas por direito.” Com esse poderoso lema, descendentes de italianos se preparam para um protesto histórico em Reggio Calabria, marcado para o próximo sábado, 3 de maio. A praça será palco de um grito coletivo por justiça, por um reconhecimento legítimo e merecido: o direito à cidadania italiana.
Em um movimento que reverbera de Reggio Calabria a Bruxelas, passando pela Sicília e até San Paolo, as vozes dos descendentes de italianos ecoam, exigindo a devida valorização de suas raízes e a reparação de uma injustiça que perdura há anos. Eles não são imigrantes, nem estrangeiros. São filhos e netos de italianos que, por direito, reivindicam o reconhecimento formal de sua cidadania, um direito historicamente concedido pelo ius sanguinis.
A manifestação, que acontece na Piazza Italia, é um apelo direto ao Estado italiano e à opinião pública, para que entendam que os descendentes de italianos não são um problema a ser contido, mas uma força viva que atravessa gerações e continentes. “Vocês nos criaram como italianos e agora fecham a porta na nossa cara.” Essa frase resume o sentimento de muitos que, mesmo com vínculos inegáveis com a Itália, enfrentam uma barreira burocrática que impede o reconhecimento de sua cidadania, e com isso, o acesso a uma série de direitos e oportunidades.
Um Clamor Contra a Burocracia e os Limites Impostos
O movimento nasce, em parte, como uma reação aos obstáculos enfrentados pelos descendentes na busca pelo reconhecimento de sua cidadania. A burocracia consular, os atrasos intermináveis e as recentes restrições impostas pelo Decreto Tajani, que suspendeu os procedimentos de cidadania em março de 2025, são alguns dos pontos que têm gerado indignação. Mas o problema vai além: em 2014, um imposto de 300 euros foi introduzido para a solicitação de cidadania, e em 2025, esse valor subirá para 600 euros, tornando o processo ainda mais oneroso, especialmente para aqueles que já enfrentam dificuldades econômicas.
Esses obstáculos, somados à complexidade do processo, fazem com que milhões de pessoas, que têm uma ligação profunda com a Itália, não consigam formalizar a cidadania, um direito que deveria ser garantido pelo Estado italiano. Esse descompasso entre o que é devido e o que é oferecido pela administração pública reflete um desentendimento sobre a importância cultural, social e econômica dos descendentes de italianos para o país.
A Manifestação de 3 de Maio: Uma Luta Constitucional e Cultural
A praça será tomada por histórias familiares, memórias de um passado de migração e um apelo claro: a cidadania não é uma concessão, mas um direito. “Esta batalha não é nostálgica. É jurídica, cultural e civil”, afirmam os organizadores. Ao lado das bandeiras e testemunhos de descendentes de italianos, estarão presentes princípios constitucionais fundamentais, como o Artigo 3º da Constituição italiana, que garante a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, e o Artigo 10º, que assegura a proteção dos cidadãos no exterior.
A manifestação não é apenas uma questão de identidade ou tradição. Ela envolve também um clamor pelo reconhecimento do papel econômico e cultural desses cidadãos no exterior. Segundo dados da ENIT, todos os anos, mais de 7 milhões de descendentes de italianos visitam as aldeias de seus ancestrais, criando uma rede de vínculos que impulsionam o turismo de raízes e geram valor para a economia local. Não se trata de uma massa de “imigrantes” buscando um país de acolhimento, mas de cidadãos que possuem laços profundos com a Itália, tanto históricos quanto econômicos.
A Cidadania: Uma Riqueza Para o Futuro da Itália
Os novos cidadãos não são um fardo para a Itália, mas uma oportunidade para seu crescimento. A cidadania é um elo com o passado, mas também um futuro de intercâmbios culturais e desenvolvimento de novos laços econômicos. O turismo de raízes, as remessas de dinheiro, o crescimento do interesse pela língua e pela cultura italiana são apenas algumas das formas como os descendentes contribuem para a Itália.
A manifestação de 3 de maio em Reggio Calabria será uma prova de que a Itália não é apenas um território, mas uma nação construída por uma rede de relações, identidades e memórias que atravessam o tempo e o espaço. Para muitos, o reconhecimento da cidadania italiana não é apenas um direito, mas uma forma de fortalecer esses laços com a Pátria.
Um Pedido de Reconhecimento e Justiça
Na Piazza Italia, no coração de Reggio Calabria, as vozes dos descendentes de italianos irão se unir para chamar a atenção das instituições italianas para uma questão de justiça histórica e cidadã. A Itália precisa entender que, ao reconhecer a cidadania de seus filhos no exterior, ela não está apenas resolvendo um problema administrativo, mas consolidando uma rede de vínculos que fortalece sua identidade, sua economia e seu papel no mundo.
O protesto não é apenas um pedido de reconhecimento; é um grito de pertencimento. E é, acima de tudo, um apelo por um futuro mais justo e inclusivo para todos os italianos, independentemente de onde nasceram.