Na quarta-feira, 7 de maio, terá início um dos momentos mais decisivos da Igreja Católica: o Conclave para a escolha do novo Papa. A decisão foi tomada durante a quinta congregação geral dos cardeais, com o objetivo de permitir a chegada de prelados de diversas partes do mundo. Dos 135 cardeais com direito a voto, 108 foram nomeados por Francisco, 22 por Bento XVI e 5 por João Paulo II. Esse cenário reflete a guinada promovida pelo atual pontífice, que direcionou os olhos da Igreja para as periferias do mundo — e, pela primeira vez, os cardeais europeus não são maioria absoluta.
Entre os nomes mais cotados estão o italiano Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, e o filipino Luis Antonio Tagle, ex-arcebispo de Manila, ambos símbolos de alas distintas dentro do colégio cardinalício. A pergunta que se impõe é: até que ponto a política interna da Igreja — e também a geopolítica global — poderá influenciar o resultado?
Um início sob tensão e expectativa
O diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, confirmou a data oficial do início do Conclave. Na manhã de quarta-feira, os cardeais celebrarão a tradicional missa Pro eligendo Pontifice, e à tarde entrarão na Capela Sistina, fechada ao público desde o dia 28 de abril. Nesse momento, será pronunciado o famoso extra omnes — todos para fora — e terá início a primeira votação, com a aguardada fumaça branca ou preta indicando o andamento da eleição.
Bruni também informou que todos os 135 eleitores devem estar presentes, embora alguns relataram atrasos devido a questões de saúde.
O caso Becciu
Um fator de tensão nos bastidores foi a renúncia do cardeal Angelo Becciu à participação no Conclave. Condenado em 2023 a cinco anos e meio de prisão por peculato e fraude, no caso de investimentos irregulares da Secretaria de Estado em Londres, Becciu anunciou sua decisão em nota oficial, afirmando agir “pelo bem da Igreja”, ainda que sustente sua inocência.
Análise: logística ou manobra?
Em entrevista, a vaticanista Claire Giangravé pondera que a data do dia 7 pode ter motivações que vão além da logística. “Alguns cardeais acreditavam que o Conclave começaria nos dias 5 ou 6. É possível que o caso Becciu também tenha influenciado”, avalia.
Há também uma sensação de urgência: com o Jubileu em curso e muitos eventos suspensos pela ausência do Papa Francisco, há pressão para que o novo pontífice assuma rapidamente.
O peso da política — e da herança de Francisco
A eleição pode ser rápida, como foi a de Francisco em 2013 (quinto escrutínio), mas prever a duração do Conclave é sempre arriscado. O contexto atual, no entanto, é carregado de simbolismos e expectativas.
Entre os favoritos, Pietro Parolin é visto como um diplomata hábil, respeitado nos meios internacionais, com cerca de 40 votos estimados. Seu nome agrada aos setores mais moderados e institucionais da Igreja. Já Luis Antonio Tagle, carismático e conectado à juventude e às periferias, representa a continuidade do legado pastoral de Francisco.
Conservadores e surpresas possíveis
Do lado conservador, destaca-se o cardeal húngaro Péter Erdő, figura de prestígio na Europa Central, que poderia até atrair votos de setores mais progressistas, por seu perfil teológico equilibrado.
Outros nomes circulam discretamente: o sueco Anders Arborelius, os italianos Matteo Maria Zuppi e Fernando Filoni, além do Patriarca de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa. Da África, surgem nomes como o guineense Robert Sarah, crítico do atual pontífice, e o congolês Fridolin Ambongo Besungu.
O que está em jogo
“O sulco está traçado”, afirma Giangravé. “Independentemente das divergências internas, muitos cardeais buscam alguém que dê continuidade aos pilares do pontificado de Francisco: caridade, diálogo, inclusão dos marginalizados e presença ativa da Igreja nas dores do mundo.”
No fim, mesmo com as inevitáveis articulações políticas e regionais, a escolha do novo Papa deverá refletir, acima de tudo, o momento espiritual e social da Igreja — e sua missão em tempos de profundas mudanças.