Nesta manhã de silêncio e comoção, o mundo despede-se de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, o primeiro Papa jesuíta da história da Igreja, aos 88 anos de idade. O anúncio oficial foi feito às 7h35, na Capela da Casa Santa Marta, pelo Camerlengo, Cardeal Kevin Farrell:
“Com profunda tristeza devo anunciar o falecimento do nosso Santo Padre Francisco. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados.”
Ao lado do Cardeal Farrell estavam o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, o Substituto Monsenhor Edgar Peña Parra e o Mestre de Cerimônias Monsenhor Diego Ravelli. A emoção tomou conta do Vaticano. Ontem, durante a celebração da Páscoa, Francisco apareceu pela última vez diante de 35 mil fiéis na Praça de São Pedro — sua última bênção, seu último gesto de amor à humanidade.
O Papa dos Últimos, dos Pobres, do Planeta
Nascido em Buenos Aires, filho de imigrantes italianos do Piemonte, Francisco carregava em si a alma de dois mundos: o calor humano da América Latina e a tradição espiritual europeia. Foi um papa das periferias, um defensor incansável dos “descartados” da sociedade. Seu pontificado foi uma bússola moral em tempos de crises múltiplas — sociais, ambientais e espirituais.
Líder de uma Igreja que ele desejava mais pobre e mais próxima do povo, falou de misericórdia como centro da fé, denunciou a cultura do descarte e defendeu, com coragem, o cuidado com a Criação. Encíclicas como Laudato Si’ e Fratelli Tutti marcaram seu compromisso com o planeta, a fraternidade e a dignidade humana.
O Vazio que Fica
O presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, declarou com pesar:
“Um vazio grave. Perdemos um ponto de referência.”
As bandeiras a meio mastro nos prédios do governo italiano — Palazzo Chigi, Câmara e Senado — são sinal do respeito profundo por uma figura que ultrapassou fronteiras religiosas e políticas.
Uma Voz de Diálogo no Cristianismo Mundial
Da Igreja Anglicana, veio uma das homenagens mais tocantes. O Arcebispo Stephen Cottrell, atualmente no comando enquanto se aguarda o novo Arcebispo de Canterbury, lembrou:
“Ele tinha profunda consciência das divisões entre nossas Igrejas e de como elas impedem uma visão mais plena de Jesus Cristo. Francisco procurou caminhos de paz e reconciliação, como demonstrou ao lado de Justin Welby em sua missão no Sudão do Sul.”
Cottrell destacou ainda o lado humano do pontífice:
“Ele era espirituoso, animado, agradável, e o calor de sua personalidade e seu interesse pelos outros brilhavam.”
Uma Vida a Serviço
Francisco foi muito mais do que um pontífice. Foi um homem que caminhava com o povo, que lavava os pés de presos, que ligava para pessoas em sofrimento, que ousava reformar, escutar e transformar. Sua missão não terminou com sua morte: ela continuará viva naqueles que seguem seu exemplo de simplicidade, acolhimento e compaixão.
Hoje, o mundo sente a ausência de uma voz serena e firme, mas permanece a herança de um homem que, como poucos, viveu o Evangelho com radicalidade e ternura.
Descanse em paz, Papa Francisco. A Casa do Pai o recebe de braços abertos. E nós, aqui, o manteremos vivo em memória, oração e ação.